João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Foi uma boa semana literária

 

Nesta semana que ora finda em seus dias úteis e se aproxima inexorável de seus dias mais-do-que-úteis, tivemos a oportunidade de viver a poesia de Valda Tissot Junqueira em dois eventos literários na segunda e terça-feira, respectivamente o Café Literário e o Sarau Literário, realizados em homenagem à mesma no mês que marca os dez anos de sua partida deste plano físico.

 

Com esses eventos demos a largada, quiçá, para a construção de uma possível nona edição do Sarau Literário de Charqueadas em outubro, onde, com certeza, novamente pretendemos lembrar da contribuição desta grande charqueadense para as letras de sua comunidade. Possibilidades, eis que sonho que se sonha junto pode se tornar realidade, como já, muito bem, disseram.

 

O verão terminou e o outono começou nesta semana, dando expectativa de temperaturas mais amenas para os gaúchos que reclamam do verão e que, certamente, hão de reclamar do inverno também, no futuro próximo. Aliás, tem gente que se incomoda em qualquer estação: é muito calor no verão, é muito frio no inverno, é muita folha no chão no outono e é muita alergia das flores na primavera. Cada um na sua, mas prefiro as metáforas poéticas de cada estação, enaltecendo seus prazeres que absorvo com usufruto e gozo: praia e pouca roupa no verão; praia, livraria e cinema no inverno; praia e festival do balonismo no outono; e praia, flores e cores na primavera. Sim, gosto muito de mar, em qualquer estação. Aquele som das ondas à noite é um coro irresistível da natureza, criação divina mor.

 

Deixo-vos poemas de Valda Tissot enaltecendo as quatro estações e o oceano, sublinhando o espírito desta crônica e compartilhando boas leituras com as senhoras e os senhores para o sábado e o domingo. Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.

 

 

INVERNO

 

Rosa de maio murchando

Folhas secando nos ramos

É o inverno chegando

Com seus dias cinzentos

Nevoeiros, chuva fina,

Geadas e ventanias.

 

O vento é como um chicote

Fustigando almas penadas

Que saem, de madrugada

Cavalgando sem abrigo

No meio da escuridão.

 

E dão voltas e mais voltas

Sacodem trincos e portas.

Subindo pelos telhados

Fazem ranger as paredes

 

Arrastam galhos e folhas

Pelos quintais e cercados

Soltando roucos gemidos

Num festival de ruídos

De medo e assombração.

 

 

PRIMAVERA

 

Quando a primavera chega

Trazendo alegria e cor

A natureza se enfeita

Para o renascer do amor

 

As heras fogem do chão

Agarrando-se nos muros

Margaridas e açucenas

Ostentam o branco mais puro

 

Exalam raro perfume

Os cravos de toda cor

As violetas singelas

Tem as faces em rubor

 

Os jardins são mundos mágicos

As flores dizem poemas

Com suas pétalas, as rosas,

Fazem tapetes de rendas

 

O arvoredo se renova

Com suas folhas verdinhas

Dando sombra e abrigando

Os ninhos das avezinhas

 

A brisa espalha venturas

Bênçãos em todo lugar

Tudo canta um hino à vida

A emoção está no ar

 

 

VERÃO

 

Verão é o sol queimando

É o mormaço na sombra

 

É a roupa no varal

e a preguiça sesteando

 

O corpo bronzeado

Os cabelos molhados

 

O sorvete derretendo

O beijo quente na boca

 

É o coração pulsando

nas paixões mais loucas

 

A lua seminua

Brilhando sem pudor

 

E o sol abrasador

fazendo mais calor.

 

 

OUTONO

 

Na hora da Ave Maria

O sol vai esmaecendo

O céu fica mais bonito

A noite já vem descendo

 

A brisa fresca revela

Que o verão já terminou

Todo o verde em amarelo

O outono transformou

 

As folhas envelhecidas

Vão caindo pelo chão

Num rodopio de vento

Vão cantando uma canção

 

Vai descendo uma neblina

Que envolve o meu coração

Uma tristeza cinzenta

Com sabor de solidão.

 

 

TEMPESTADE

 

Loucura, delírio

Insano devaneio

Nuvens e barco

Rochedo e mar

 

Vem tempestade!

Vem furacão!

Arrasta, quebra

Leva nas águas

Tudo o que resta

Da embarcação

 

Quando amanhã

O sol voltar

A brisa calma

Vai encontrar

Restos de sonhos

Que as ondas mansas

Jogam na areia

Da beira-mar

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 24/03/2023
Alterado em 24/03/2023
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