Nesta semana que ora finda em seus dias úteis e se aproxima inexorável de seus dias mais-do-que-úteis, tivemos a oportunidade de viver a poesia de Valda Tissot Junqueira em dois eventos literários na segunda e terça-feira, respectivamente o Café Literário e o Sarau Literário, realizados em homenagem à mesma no mês que marca os dez anos de sua partida deste plano físico.
Com esses eventos demos a largada, quiçá, para a construção de uma possível nona edição do Sarau Literário de Charqueadas em outubro, onde, com certeza, novamente pretendemos lembrar da contribuição desta grande charqueadense para as letras de sua comunidade. Possibilidades, eis que sonho que se sonha junto pode se tornar realidade, como já, muito bem, disseram.
O verão terminou e o outono começou nesta semana, dando expectativa de temperaturas mais amenas para os gaúchos que reclamam do verão e que, certamente, hão de reclamar do inverno também, no futuro próximo. Aliás, tem gente que se incomoda em qualquer estação: é muito calor no verão, é muito frio no inverno, é muita folha no chão no outono e é muita alergia das flores na primavera. Cada um na sua, mas prefiro as metáforas poéticas de cada estação, enaltecendo seus prazeres que absorvo com usufruto e gozo: praia e pouca roupa no verão; praia, livraria e cinema no inverno; praia e festival do balonismo no outono; e praia, flores e cores na primavera. Sim, gosto muito de mar, em qualquer estação. Aquele som das ondas à noite é um coro irresistível da natureza, criação divina mor.
Deixo-vos poemas de Valda Tissot enaltecendo as quatro estações e o oceano, sublinhando o espírito desta crônica e compartilhando boas leituras com as senhoras e os senhores para o sábado e o domingo. Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.
INVERNO
Rosa de maio murchando
Folhas secando nos ramos
É o inverno chegando
Com seus dias cinzentos
Nevoeiros, chuva fina,
Geadas e ventanias.
O vento é como um chicote
Fustigando almas penadas
Que saem, de madrugada
Cavalgando sem abrigo
No meio da escuridão.
E dão voltas e mais voltas
Sacodem trincos e portas.
Subindo pelos telhados
Fazem ranger as paredes
Arrastam galhos e folhas
Pelos quintais e cercados
Soltando roucos gemidos
Num festival de ruídos
De medo e assombração.
PRIMAVERA
Quando a primavera chega
Trazendo alegria e cor
A natureza se enfeita
Para o renascer do amor
As heras fogem do chão
Agarrando-se nos muros
Margaridas e açucenas
Ostentam o branco mais puro
Exalam raro perfume
Os cravos de toda cor
As violetas singelas
Tem as faces em rubor
Os jardins são mundos mágicos
As flores dizem poemas
Com suas pétalas, as rosas,
Fazem tapetes de rendas
O arvoredo se renova
Com suas folhas verdinhas
Dando sombra e abrigando
Os ninhos das avezinhas
A brisa espalha venturas
Bênçãos em todo lugar
Tudo canta um hino à vida
A emoção está no ar
VERÃO
Verão é o sol queimando
É o mormaço na sombra
É a roupa no varal
e a preguiça sesteando
O corpo bronzeado
Os cabelos molhados
O sorvete derretendo
O beijo quente na boca
É o coração pulsando
nas paixões mais loucas
A lua seminua
Brilhando sem pudor
E o sol abrasador
fazendo mais calor.
OUTONO
Na hora da Ave Maria
O sol vai esmaecendo
O céu fica mais bonito
A noite já vem descendo
A brisa fresca revela
Que o verão já terminou
Todo o verde em amarelo
O outono transformou
As folhas envelhecidas
Vão caindo pelo chão
Num rodopio de vento
Vão cantando uma canção
Vai descendo uma neblina
Que envolve o meu coração
Uma tristeza cinzenta
Com sabor de solidão.
TEMPESTADE
Loucura, delírio
Insano devaneio
Nuvens e barco
Rochedo e mar
Vem tempestade!
Vem furacão!
Arrasta, quebra
Leva nas águas
Tudo o que resta
Da embarcação
Quando amanhã
O sol voltar
A brisa calma
Vai encontrar
Restos de sonhos
Que as ondas mansas
Jogam na areia
Da beira-mar