João Adolfo Guerreiro
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Textos

Entrada do outono com a poesia de Valda Tissot II

Crônica publicada no jornal Portal de Notícias

 

Ontem, às 18h25min, terminou o verão e iniciou o outono. À noite, na Biblioteca Pública Municipal Vera Maria Gauss, ocorreu o Café Literário em homenagem à poeta Valda Tissot Junqueira. Logo, outono e poesia se juntaram e, para não deixar passar tal em branco, trazemos o poema Outono (1), que dona Valda publicou em 2008 em seu livro Poesia com Data Marcada.

 

Valda Tissot, em Charqueadas, publicou seus poemas em: Iª Mostra Literária de Charqueadas (1999), Do Outro Lado da Vidraça (2002), Jornal do IIº Sarau Literário de Charqueadas (2006), IIª Mostra Literária de Charqueadas (2007), IIIª Mostra Literária de Charqueadas (2007) e Poesia com Data Marcada (2008). Por reconhecimento ao seu trabalho literário junto aos clubes de mães da cidade, nomeou a biblioteca do Clube de Mães Lírios do Campo. Foi a patronesse do Iº Sarau Literário de Charqueadas. Seu legado para a cultura e para a literatura charqueadenses é significativo e inconteste. Ontem, no Café Literário, o bate-papo girou em torno disso tudo e, também, sobre o que pode se fazer no presente e no futuro a fim de, cada vez mais, passar para as gerações futuras a importância e o valor de sua obra poética para Charqueadas e para a região Carbonífera. No devido momento, tudo isso será divulgado e efetivado. Aguardem.

 

De minha parte, hoje, há exatos dez anos de sua partida, digo que estou redescobrindo seus poemas, que adquirem novo significado para mim. Valda Tissot, na maior parte da sua produção acima citada, é uma poeta da maturidade, de alguém que já sente o avançar da idade olhando para o passado, o presente e o futuro sentindo, refletindo e poetizando. Assim, ao reler seus escritos, encontro caminhos antes ignorados pelos olhos da juventude, como em Abandono (1), onde dona Valda trata das casas solitárias pela ausência das pessoas queridas que se foram, o que me remeteu diretamente a meus pais e me fez apreender e sentir toda a intensidade literária e emocional do texto. Ficarei somente nesse exemplo.

 

Na noite desta terça-feira, 21 de março, às 19 horas, no Espaço Valda Tissot Junqueira, na Smed Charqueadas - antigo Sesi -, ocorrerá um SARAU LITERÁRIO dedicado à poeta. Nada mais "tudo a ver" com a data, pois hoje se comemora o Dia Mundial da Poesia. Sim, coincidentemente, dona Valda nos deixou nesta efeméride, dia seguinte à entrada do outono! Parece uma metáfora intencional do mundo ressaltando a vida e a partida de alguém que muito se dedicou à poesia!

 

Vida longa para a poesia de Valda Tissot Junqueira.

 

 

(1) - OUTONO

 

Na hora da Ave Maria

O sol vai esmaecendo

O céu fica mais bonito

A noite já vem descendo

 

A brisa fresca revela

Que o verão já terminou

Todo o verde em amarelo

O outono transformou

 

As folhas envelhecidas

Vão caindo pelo chão

Num rodopio de vento

Vão cantando uma canção

 

Vai descendo uma neblina

Que envolve o meu coração

Uma tristeza cinzenta

Com sabor de solidão.

 

 

(2) - ABANDONO

 

Perdidos, vagando

Fantasmas sem sono

Andam silenciosos

Pela casa vazia.

 

Os donos se foram

Levaram seus sonhos

Seus medos, desejos

Suas alegrias.

 

Deixaram somente

Esse ar de abandono

As paredes sem quadros

Os relógios parados

Eternamente mostrando

A hora do adeus.

 

Que estranha sensação

Essa ausência de cheiros

Ruídos, trinares

Risos e cantares.

 

As portas já não batem

Os cães já não latem

Só o vento furioso

Parece chamar alguém

Que ele sabe que não vem

 

Poema publicado no livro Do Outro Lado da Vidraça (2002)

 

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 21/03/2023
Alterado em 21/03/2023
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