Por 22 pilas tu podes fazer uma tour pela Arena do Grêmio e ainda ver o Museu Hermínio Bittencourt. É só chegar algumas horas antes em qualquer jogo do Grêmio lá, como foi o meu caso no Grenal do último domingo.
A entrada da tour é pelo requintado Portão A, ornado com belos murais, principalmente o enorme mosaico em homenagem ao Olímpico Monumental, antiga casa do Imortal Tricolor. Daí se vai direto para os vestiários... Ou é para o auditório? Putz, já me esqueci... Não, nenhum dos dois: fomos para as cadeiras gold, no segundo nível da Arena, onde o cicerone nos informou acerca das acomodações e especificidades dos cinco diferentes anéis do estádio. Dali saímos em direção ao auditório, "maior que os do Barcelona e Real Madrid". Pelo caminho, passamos pelo salão de festas, atrás da tribuna de honra e não era permitido usar sequer para uma urinada os wcs do setor. Imagina, o pessoal da elite gremista chegar para ver o Grenal e constatar que a plebe tricolor sentou em seus tronos? Bem capaz! Precisa muito mais do que míseros R$ 22,00 para usufruir tal privilégio.
Chegamos no auditório, onde subir na bancada não é permito. Ali é solo sagrado, só o Homem Gol, estátua e semideus Renato, a diretoria e os jogadores. Realmente, grande o auditório é mui caprichado, trezentos lugares. Dali rumamos para os vestiários, onde de antemão avisaram para não tocar nos uniformes dos jogadores - plausível. Ah, ia esquecendo: ainda no auditório o guia informou que eram quatro vestiários idênticos, todos padrão Fifa, dois para uso em dia de jogos e dois "reservas", para alguma eventualidade. "Quando tem Grenal, não tem água para os rivais, o que também ocorre quando vamos lá na casa deles" - acentuou, para delírio dos presentes, o que contrastou com meu espanto em relação a tamanha descortesia, falta de educação, de civilidade e baita espírito de porco esportivo, isso se tal era mesmo verdade - custo a crer que era - ou apenas galhofa do rapaz. "Depois de levarem 4x0 hoje, vão sujos pra casa", eh eh eh eh eh - riram guia e torcida.
Finalmente, chegamos no vestiário. Estranho ver o uniforme do Geromel ali, eis que o mesmo está em tratamento médico. São amplos os espaços: salão com armários e assentos dos jogadores, com uniformes pendurados; sala do treinador com wc e chuveiro exclusivo; sala do massagista; grande salão para aquecimento dos jogadores; e, seguindo por um corredor, passamos por duas salas de banheiros com chuveiros até chegar, ao final, num grande espaço com três banheiras de hidromassagem lado a lado e, ao fundo, uma respeitável piscina. Imagina, sair do jogo e dar um mergulho para relaxar? Ótimas condições de trabalho! O que me surpreendeu foi ver, na sala do treinador, uma cadeira estofada já meio surrada e com uma das laterais aberta, por onde se enxergava a espuma amarelada - suponho que era a única coisa fora do padrão Fifa por ali.
Descemos para o gramado e, no túnel de acesso, dois grandes painéis embelezavam as paredes de cada lado, com desenhos de grandes jogadores da história do Grêmio em lances icônicos dos títulos mais importantes do clube - só não vi Ronaldinho ali. As proibições eram "não pisem no gramado e não arranquem a grama" - de fato, o pessoal arrancava a grama assim mesmo e guardava no bolso, "para recordação, eh eh eh eh". Ao ver uma equipe da RBS sentada em círculo perto da bandeirinha de escanteio, gravando ou transmitindo algo, gritaram: "Lucianinho, vai narrar gol do Grêmio hoje". Entretanto, a preferida era a Alice Bastos, que acenava e sorria em retribuição aos "elogios" dos fãs.
Terminado o tour, fui para o museu, mas deixarei pra outro dia uma crônica sobre ele a fim de não alongar em demasia nossa conversa. Só quero dizer que ver aquelas belas taças de 1905 em diante dá um arrepio - curioso constatar que, embora o Inter detenha mais títulos regionais, sempre que teve um Gauchão marcante, como o do centenário da Revolução Farroupilha ou cinquentenário da Federação Gaúcha de Futebol, o Grêmio levou.
Segui para o último anel da Arena, nas cadeiras superiores, bem ao centro, com uma ótima visão do campo e do estádio ali do alto. Foi um Grenal bem jogado e leal, bom de se assistir. Uma guria logo acima berrava feito uma doida, xingando o juiz e todo mundo durante todo o tempo - hilário. Pelas chances claras de gol perdidas, o placar deveria ter sido 6x2 para o Grêmio, e não 2x1. Bitelo (2), Pepe (1) e Ferreira (1) perderam gols incríveis para o Tricolor.
E foi isso: um belo domingo de Grenal, com sol, chuva, lazer, futebol e sem brigas. "Valeu a pena, ê ê".