João Adolfo Guerreiro
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Textos

Cinquenta anos do pretinho do prisma

 

Aguardo desde fevereiro do ano passado para escrever essa crônica, por indicação do Jerônimo Nogueira de Souza, que me lembrou do cinquentenário do LP The Dark Side of the Moon, lançado em 1º de março de 1973 pela icônica banda inglesa de rock progressivo Pink Floyd.

 

E Jerônimo, um cara ligado, ainda de deu um depoimento sobre o play, contextualizando-o política, histórica e sociologicamente: "O que poderia te dizer do The Dark Side, é que é o disco mais emblemático do rock .... Sua temática abordava a decadência da sociedade inglesa - até a Segunda Guerra Mundial a Inglaterra era o maior império colonial do planeta e berço da revolução industrial -, estavam estavam ali em músicas como Money, Time e Us and Them a decadência do Império Britânico, que resultou na pobreza e exclusão social e isso foi o mote para a demolição do Estado de Estar Social Inglês , com os governos conservadores que viriam. Também é emblemático a forma como eles abordaram a falência mental do ser humano. A canção Brain Damage representa bem isso, até hoje nos perguntamos qual o verdadeiro sentido da loucura..."

 

Isso aí, Jerônimo, exato, embora um play de rock não seja um artigo de Sociologia, mas sim um disco de música com canções para serem curtidas pela moçada. Por esse somatório de qualidades é que The Dark Side resistiu ao tempo e se tornou emblemático, a ponto de seu cinquentenário ser lembrado e ainda hoje sua capa estampar uma roupinha de bebê, como na foto acima, estilizada. Não é pouca coisa mesmo. E, sobretudo, é a força das canções, da concepção estética musical que as gera que torna um LP inesquecível. E o Pink Floyd era a nata da nata tanto no rock em geral quanto na seara progressiva nos 1970, numa "concorrência" que tinha Yes, Genesis e até o Led Zeppelin, que incursionou pelo progressivo via canções como No Quarter.

 

É difícil falar sobre o impacto de uma obra artística nas pessoas de seu tempo sem ter sido contemporâneo da mesma. Em 1973 eu já não usava bico nem sujava fraldas, mas era apenas um pouco maior do que a menina da foto, logo, não sabia do que acontecia ao meu redor, ainda mais que meus velhos (então meus novos) eram do gauchesco e da MPB, ouvia-se Teixeirinha, Gildo de Freitas, Vicente Celestino, Noel Rosa e Pixinguinha lá em casa. O primeiro contato que travei com The Dark Side foi pela canção Time, cuja a introdução era utilizada como abertura do programa de TV Sexto Sentido (1) e deixava o Joãozinho amedrontado. Não é um bom começo para uma relação, mas foi marcante.

 

E Time dá bem o cartão de visitas daquele som incrivelmente criativo e experimental feito para abrir os sentidos, bem longe do esquema do rock e do pop comercial, com canções vendáveis ou dançantes em formato tradicional verso-refrão. Mas bah, tchê, me caiu os butiás do bolso e derreteu a cera dos ouvidos quando fui apresentado ao play, anos depois! Vão pela mesma linha as canções de The Dark Side que mais gosto, como Money (2), The Great Gig in th Sky (3) e Breathe (4), além, claro, de Time (5) - ah, percebam que Breath volta ao final de Time e que, na abertura desta, o tic-tac do relógio é, na verdade, feito no baixo (Uau syl!). Até hoje, com toda a parafernália tecnológica dos estúdios, elas mantém seu vigor, pois contra o talento humano nada pode. Imagino o efeito na rapaziada da época, devem ter ficado em transe! Entravam em outra dimensão, por certo, para muito além da imaginação.

 

Obviamente nunca assisti a um show do Pink Floyd, mas mais adiante tive oportunidade de ver David Gilmour na Arena Grêmio e Roger Waters no Beira Rio .O show de David foi inesquecível, o cara metendo improvisos de guitarra de vários minutos em canções épicas (6) com efeitos visuais acachapantes. O de Waters eu nem queria ir, fui no embalo. Choveu pra caramba, eu acompanhava mais o jogo do Grêmio pela semifinal da Libertadores e o brigueiro na plateia por causa do Ele Não (era o segundo turno das eleições presidenciais de 2018) estimulado pelo telão do show, que sentava a lenha em figuras locais e internacionais da extrema-direita, bem ao estilo politizado do baixista. Recordo bem da abertura, onde o gigantesco telão em HD exibia a imagem fixa de uma moça sentada numa duna (7), de costas, olhando o mar. Nada mais Pink Folyd, super reflexivo e viajandão.

 

E era isso. Vida longa para The Dark Side of the Moon. Não estarei aqui para o centenário, mas a menininha estará. Viajem com as canções abaixo:

 

(1) - Abertura de Sexto Sentido

(2) - Money

(3) - The Great Gig in the Sky

(4) - Breath

(5) - Time

(6) - Comfortably Numb - David Gilmour na Arena Grêmio

(7) - Abertura show Roger Waters em Porto Alegre

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 02/03/2023
Alterado em 02/03/2023
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