Quando tu sais quase no final da manhã pra uma festa de 65 anos num domingo quente de verão gaúcho tu esperas algo simples, tipo carne bem assada, cerveja e uma boa prosa. Ok, tudo nos conformes. Mas quanto tu chegas no rancho do vivente e o vê sentado, em trajes de banho, na piscina de plástico das crianças, tu pensas: Mas bah, isso aqui hoje vai ser um troço diferente. E foi!
Na chegada, as crianças estavam com uns cilindros de água bombardeando o pessoal, na maior agitação. Entrei pelo lado da casa pra não ter os meus All Star verdes de cano longo molhados. Minha esposa rateou e levou uma rajada d'água do sobrinho pequeno. Buenas, entramos e sentamos pra comer. Tinha um pão assado no forno tão buenacho que dispensei o arroz e a maionese. O assador trouxe pedaços de costelão primorosos de tão bons e bem assados que me fartei junto com um latão de Puro Malte. Ô coisa boa. Bom ser bem recebido num lugar cheio de gente alegre.
Vamos sentar nas cadeiras na área depois e a farra d'água continua a mil, com a participação dos irmãos mais novos do aniversariante, não esquecendo que era uma festa de 65 anos. Ninguém escapava: homens, mulheres e crianças. Estava sendo poupado, junto com dois casais mais idosos, por não ser uma visita consanguínea. Mas muito legal de ver aquilo, aquele pessoal mostrando que a idade, em parte, está, sim, no espírito. A boa energia, quando rola, vitaliza. E então chegou a hora do bolo...
Eu, sinceramente, não esperava por aquilo. Não que, sendo sincero, tal o clima da festa, tenha me surpreendido, mas que não esperava, ah, isso não esperava. Queriam enfiar a cara do aniversariante no bolo, depois dele assoprar as velinhas. A filha: "Calma, gente, só tem esse bolo". O bom senso prevaleceu: irmãos e irmãs, junto ao bolo, soprando as velinhas e... passando recheio no rosto uns dos outros. O aniversariante foi o alvo preferido, claro. A filha, novamente: "Calma, gente, só tem esse bolo. Peguem recheio só dum lado". Acabou igualmente recheada, claro. E mais água pra limpar tudo isso. Gente, que barato, A D O R E I. Depois viraram o bolo e serviram na parte que escapara incólume dos dedos, e ainda assim rolaram umas tortas na cara.
E, depois do bolo, a farra d´água continuou. Percebi que as pessoas já me olhavam cheias de segundas intenções, o "respeito" já começando a fraquejar, e concluí que não poderia ser o Joãozinho-do-passo-certo do dia, pousando de chato. Quer saber duma coisa? Melhor se aliar, quando os adversários são muitos e determinados. Tirei os All Star, coloquei no capô do carro e entrei na piscina, pronto para as bombas que vieram. Eh eh eh eh, ô coisa boa. A água da piscina tava legal, mas a do poço, que vinha duma mangueira, gelada. Dane-se, um Guerreiro não chia, aguenta. Ao sair, fui pegar os tênis e constatei que estavam cheios de água. Eh eh eh eh eh.
Muito bom ser convidado para partilhar um momento desses, a vida é bela e pode ser maravilhosa. Pensei em que nome dar à festa nessa crônica. Não poderia ser uma gíria atual, dada a faixa etária predominante, mas algo de outros tempos. Balacobaco! Isso, balacobaco, uma festa do balacobaco foi o que ela, literal e literariamente, foi. Espero fazer uma festa com esse espírito quando fizer meus 65, embora sem água, eis que nasci no alto do inverno, na noite mais longa do ano.
Lembrou-me os inesquecíveis aniversários do seu Pedro Acosta, lá na Colônia, que ocorriam em fevereiro, mas essa é outra história do balacobaco, pra ser contada numa futura crônica.
Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, usem máscara em locais fechados, vivam, divirtam-se e fiquem com Deus.