João Adolfo Guerreiro
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Textos

100 anos da CCCP

 

Talvez por CCCP, a sigla do nome russo da coisa, vocês não identifiquem. E se eu escrever 100 anos da URSS, sabem do que se trata? Os nascidos antes dos anos 1980, com certeza lembrarão - e também da famosa Seleção Soviética de 1966, a da foto acima. Os demais, só pelos livros de história que devem ter estudado na escola, saberão que falo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - ou União Soviética -, que foi, grossíssimo modo, o antigo nome da Rússia ou Federação Russa, quando de seu passado comuna. Fez 100 anos no final de dezembro passado, mais precisamente no dia 30, embora tenha durado apenas até 1991, por 69 anos. Hoje não tem mais importância alguma, mas já foi um dos polos da geopolítica mundial enquanto existiu, dividindo o mundo enquanto potência política, econômica e militar, paradigma ideológico e modelo social - não dá para se falar do século XX sem ver o que foi a URSS ou do século XXI sem investigar seu legado.

 

Entretanto comunismo soviético, Outubro de 1917, Guerra Fria, Cortina de Ferro, Muro de Berlin, Lenin, Trotsky, Stalin, CCCP, URSS, KGB, Mikail Gorbatchov, Boris Yeltsin, Glasnost, Perestroika, hoje, estão no museu da história e já fazem parte do passado - a não ser na cabeça do senador Mourão, onde ainda conformam seu fantasmagórico e fantasioso mundo presente. Desde que o beberrão Yeltsin capitaneou o fim da União Soviética após o governo Gorbatchov e o espião da KGB Putin ascendeu ao poder na nova Rússia capitalista, já se passaram mais de 31 anos, período em que, no vácuo geopolítico deixado pelo baixar da Cortina de Ferro comunista, a OTAN ocupou vastos territórios onde antes tremulava a bandeira vermelha da URSS com a foice e o martelo.

 

O linguista estadunidense Noam Chomsky perguntou: Com o fim do "perigo" comunista, porque a OTAN continuou a se expandir para Leste? Ele mesmo respondeu: Porque na verdade a luta sempre foi por controle de matéria prima e alimentos, contra o "Império Russo", sendo o comunismo um pretexto. Batata! Seu conterrâneo, o famoso e conceituado diplomata Henry Kissinger, também já avisara há décadas: Não se metam na Ucrânia, lá está a linha vermelha da estabilidade geopolítica mundial. Não ouviram e deu no que deu. Hoje, com a Guerra da Ucrânia, temos informação suficiente pra saber que lá sempre foi uma bomba e uma área estratégica, eis que, não tem como ignorar, Napoleão e Hitler invadiram a Rússia pela Ucrânia - e ambos morreram de frio com a tática de terra arrasada russa. E também foi naquela região onde nasceu o que hoje chamamos de Rússia ou Federação Russa, a então "Rússia de Kiev" (pesquisem leiam sobre). A coisa, vê-se, não é simples.

 

Esses dias Putin deu uma declaração dizendo que a Ucrânia sempre fez parte da Rússia e que a culpa de tê-la perdido foi de Lenin, que lhe deu relativa autonomia e estimulou o nacionalismo ucraniano durante a Revolução Russa. Uma meia verdade. A política inicial de estimular os nacionalismos do Império Russo foi, de fato, a linha adotada pelos bolcheviques liderados por Lenin após a Revolução de Outubro de 1917. Não esqueçamos que Leon Trotsky era ucraniano. Em 1922, após o fim da Guerra Civil Russa entre os exércitos Branco (imperial) e Vermelho (comunista), a região - que desde a Invasão Mongol no século XIII virou terra de ninguém, passando de mão em mão repetidamente, conforme o poderoso da ocasião, até cossacos - recebeu autonomia parcial como República Socialista Soviética Ucraniana, integrante da URSS. Após 1930, já com Stalin no poder absoluto na CCCP, a coisa inverteu a ponto de gerar, inclusive, o genocida e infame Holodomor (pesquisem leiam sobre, também), que levou, estima-se, 25% da população ucraniana a morrer de fome. Mais adiante, porém, os comunistas resolveram tirar a Criméia da Rússia, anexando-a à Ucrânia (1953), e posteriormente o líder da URSS foi o ucraniano Leonid Brejnev, de 1964 a 1982. Um baita emaranhado histórico. Logo, sim, a Ucrânia já fez parte da Rússia, tanto da imperial quanto da comunista, mas não, nem sempre foi assim.

 

Com o fim da URSS, Yeltsin assinou a independência da Ucrânia. E o tempo andou até ocorrer, em 2014, o Euromaidan (pesquisem e leiam sobre), onde o atual grupo político entrou no poder e, resumo da ópera-bufa tragicômica, hoje temos o comediante Zelensky na presidência do país. O fato é que, com a deposição do governo pró-russo em 2014, a Rússia reanexou militarmente a Criméia e iniciou a revolta na região do Donbas, majoritariamente habitada por russos étnicos. O novo grupo no comando do país resolveu colocar na Constituição seu desejo de entrar na OTAN e, como avisara Kissinger, deu o problema que hoje assistimos, com guerra, destruição, sofrimento e morte, o que parece ser, como vimos acima, a sina desse pedaço de terra do planeta.

 

Fiz toda essa incursão sobre a história da Ucrânia ao falar da URSS em virtude do único motivo de proveito para hoje abordarmos seu centenário de criação, além do interesse histórico para o estudo das revoluções socialistas marxistas e das lutas operárias do século XX, é para entender o conflito Rússia - Ucrânia dentro de uma perspectiva histórica. Uma coisa decorre da outra, pois, se a política da União Soviética nunca tivesse inicialmente dado importância para a questão dos nacionalismos sufocados pelo Império dos Czares, talvez nem estaria escrevendo sobre isso hoje.

 

Lenin e Trotsky choram e sorriem em seus caixões. Stalin chora e espragueja. Putin faz chorar e morrer, fazendo a guerra.

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 19/01/2023
Alterado em 19/01/2023
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