João Adolfo Guerreiro
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Foto: ClickPB (VÍDEO: policial da cavalaria da PM é agredido por terroristas bolsonaristas, em Brasília - ClickPB)

 

No Capitólio foi pior do que em Bralia

 

Estruturas físicas se recuperam, já vidas são para sempre perdidas. No Capitólio, cinco pessoas morreram; em Brasília, felizmente, não ocorreram vítimas fatais. A depredação de prédios públicos aqui aconteceu num domingo, eles estavam vazios, enquanto nos EUA foi no dia em que ocorria a sessão legislativa que certificaria a vitória do presidente eleito, Joe Biden. Logo, uma tentativa muito mais clara de golpe e reversão de um resultado eleitoral do que a domingueira brasileira de vandalismo.

 

Por esses dois motivos principais digo que o 6 de janeiro de 2021 nos Estados Unidos foi pior do que o 8 de janeiro de 2023 em Brasília. O do último domingo foi claramente pensado tanto para marcar a data no calendário em relação ao Capitólio (quase exatamente dois anos após) quanto para "corrigir" os "erros" da extrema-direita estadunidense, que o fez com Trump ainda no governo e após um discurso deste, gerando consequências para o agora ex-presidente. Os eventos ocorridos no dia da diplomação do presidente eleito Lula no TSE foram um ensaio para o que, de fato, ocorreria com Bolsonaro já fora do pais e, portanto, inimputável - a não ser que surja alguma evidência material de sua participação como mentor da tentativa de golpe.

 

Em Brasília, como no Capitólio, houve uma falha tão primária, grosseira e grotesca na segurança que o Governo Federal interveio na Segurança Pública do GDF e a Justiça já está tratando tudo como conivência e tomando medidas como o afastamento do governador do Distrito Federal, detenção do comandante da PM e prisão do secretário da Segurança, não por coincidência ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e que, também não por coincidência, assumiu dia 1º e já viajou de férias para os Estados Unidos no dia 2, onde, igualmente não por coincidência, o ex-presidente Bolsonaro está. E, da mesma forma não por coincidência, ambos criticaram a domingueira em notas oficiais. Como escrevi acima, os "erros" de Trump foram "corrigidos" pela sua versão brasileira, embora, mesmo assim, a domingueira não tenha escapado de ser claramente uma caricatura do Capitólio feita para fazer sorrir Trump, Bannon e a extrema-direita estadunidense. Logo, tudo começou e acabou nos EUA, de 6 de janeiro de 2021 a 8 de janeiro de 2023, para, assim espero, ir para a lata de lixo da história.

 

Se os militares da FFAA quisessem mesmo dar um golpe de estado, já o teriam feito logo após as eleições, afirmando em seu relatório sobre o pleito terem ocorrido fraudes nas urnas eletrônicas, o que não aconteceu. Poderiam "fabricar" esse motivo, se desejassem firmemente entrar no golpismo dos bolsonaristas. Se com todos os acampamentos em frente aos quartéis nada ocorreu que impedisse a diplomação e a posse do presidente eleito, não seria numa domingueira de vandalismo, onde a polícia apanhou muito mais do que bateu, que isso ocorreria, e claro que isso era sabido por aqueles que pensaram a data e o fato. A grande massa ali presente talvez, em grande parte, acreditasse mesmo que tomariam o poder na domingueira, mas isso, viu-se, foi de uma fanfarronice só igualável à estupidez do praticado contra o Senado Federal, o Palácio do Planalto e o STF - neste, com requintes de selvageria.

 

Entretanto, mesmo dizendo que no Capitólio foi pior do que em Brasília, não significa afirmar que nossa democracia não esteja ameaçada pelas claríssimas intenções golpistas dos líderes e da base da extrema-direita brasileira e que, assim como ocorre nos EUA, não seja necessária e imperiosa uma completa apuração dos fatos e punição de todos os envolvidos, dos tubarõe$ aos lambaris. A fanfarrona intentona golpista brasileira, por mais caricata que seja, resultou na violenta depredação dos três mais importantes prédios da democracia liberal brasileira, um vandalismo que atinge concreta e simbolicamente o Estado Democrático de Direito e que, portanto, deve ser tratada com toda a força da Lei na defesa dos princípios da Constituição Federal de 1988.

 

De junho de 2013 à janeiro de 2023 o Brasil viveu quase uma década em que sua democracia foi agitada pela participação popular, mas ela deve se dar, sempre, dentro dos marcos da civilidade e do respeito à democracia.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 11/01/2023
Alterado em 11/01/2023
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