João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

A primeira crônica de 2023

 

Quando jovens sabemos, mas não compreendemos, a brevidade da vida. Pelo menos foi assim comigo. As perdas muito próximas pela "longa estrada da vida" é que nos fazem compreender exatamente isso. Na juventude, o sabia; entretanto, parecia algo distante para mim e para os meus - hoje não mais.

 

E nem usaria, pensando melhor, a palavra brevidade, mas sim finitude. Por isso usei a expressão "longa estrada da vida", da canção de Milionário & José Rico, pois a vida, via de regra, é muuuiiitooo looongaaa, mas bah! Pra mim, pelo menos, é. Sempre foi. Vejo as pessoas dizerem o comum "parece que foi ontem que...". Pra mim, não! As coisas de décadas atrás parecem ter sido no século passado - algumas realmente foram - ou, até mesmo, noutra vida! Dez anos já é algo muito distante no tempo. Se passar por mais trinta natais, por exemplo, olharei para os dias de hoje desta mesma forma, tenho certeza. É o meu jeito de perceber as coisas ou minha idiossincrasia mental, sei lá. Algo por aí.

 

Atualmente revejo fotos mui antigas de família, com crianças e pais reunidos e felizes, e penso, abismado: puxa vida, todos ou quase todos já se foram! Eis o que gera a exata dimensão da finitude da vida, ao ser cotejado com a experiência de décadas de existência e suas inevitáveis perdas. E isso, claro, em situações onde o ciclo da vida segue seu curso normal de nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer.

 

Em guerras e pandemias esse ciclo é duramente rompido para determinada geração. Vide a guerra da Ucrânia e a Covid-19, a primeira ceifando principalmente jovens e a segunda velhos e doentes - 80% dos óbitos no RS e 76% no BR (Aliás, acabo de ler Nêmesis, de Philip Roth, que recebi de meu amigo André, muito gentil, ano passado - de fato, há alguns dias atrás. Fala de uma epidemia de poliomielite ocorrida nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, que vitimou sobretudo crianças abaixo dos 12 anos. O livro é de 2010, mas, ao passarmos os olhos pelas páginas, constatamos que poderia ser perfeitamente de 2020/21, dada a similaridade do comportamento social frente ao problema - sim, tristemente, não aprendemos ou evoluímos desde então, mas isso é assunto para outra crônica.). Concretamente, as guerras e pandemias colocam a compreensão de nossa finitude no terreno do aprendizado social, não mais somente individual, em termos de experiência. Ou melhor: aquilo que os de mais idade aprenderiam em determinado momento, caso a caso, agora o é pela sociedade, confrontada que é, coletivamente, pelo espectro da morte em termos generalizados.

 

Voltando ao primeiro parágrafo, a experiência individual é o "normal" a ser vivenciado pela maioria das pessoas. Eis o tão citado "peso da idade" sobre o qual tanto falam, que não é somente físico, mas também emocional, psicológico e ideológico - eis que igualmente transforma nossa visão de mundo. Viver é um processo de aprendizado contínuo, que recomeça a cada novo ano, a cada nascer do sol - como na bela foto acima, de Eduardo Duran. E, como também dizem, a gente morre e não vê tudo, o que é uma baita duma verdade.

 

"O que foi voltará a ser, o que aconteceu, ocorrerá de novo, o que foi feito se fará outra vez; não existe nada de novo debaixo do sol. O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol" - Eclesiastes.

 

Um feliz 2023 para todos, com muita saúde, amor e paz. Cuidem-se, vacinem-se, usem máscara em locais fechados, vivam e fiquem com Deus.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 05/01/2023
Alterado em 05/01/2023
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