Não estou animado com a Copa do Qatar. Esse lance das condições de trabalho dos operários da construção dos estádios, a homofobia, o fundamentalismo religioso e a falta de democracia no país tiraram parte do meu tesão. Estou sem disposição para o "fechado por motivo de futebol", a tal imersão que o escritor uruguaio Eduardo Galeano fazia em toda copa, ficando apenas em casa, isolado, assistindo os jogos. Fiz isso na Copa da Rússia, em 2018, e gostei. Tirei férias só para isso, inclusive. Esse ano nem cogitei a hipótese. E os fatos vem dando razão a minha postura.
Foi uma gota d'água esse episódio com a bandeira de Pernambuco. Vixe, que coisa! Os caras arrancaram a bandeira e pisaram em cima, policiais do país, pensando que fosse uma bandeira gay por causa do arco-íris. Imagina? Isso que a Fifa disse que manifestações LGBT seriam permitidas na copa, assim como a cervejinha amiga. Tudo balela, os sheiks mostram que quem manda é quem tem a grana e necapau. Sem ceva e sem LGBTs, até os capitães das seleções foram proibidos de usarem braçadeiras aludindo à tolerância. Por um lado, bom ver a famigerada Fifa encontrar quem a coloque no chinelo; por outro, ver esse tipo de coisa ocorrer, essa intolerância, esse preconceito, essa ignorância e essa falta de respeito... Que barbaridade! Pois saibam vocês da polícia do Qatar que Pernambuco é Brasil! Como assim, arrancar a bandeira das mãos do jornalista e pisar em cima? Que coisa mais feia e autoritária.
Claro que dou uma espiada nos jogos. Ninguém é de ferro, ainda sendo brasileiro, morador do país do futebol. Independente do entorno, na hora em que o juiz apita a mágica do esporte acontece dentro de campo, 11 contra 11, uma bola e duas goleiras. Irresistível, ainda mais, reconheçamos, num mundial muito bem organizado. E hoje com certeza estarei assistindo Portugal e, depois, a estreia do Brasil contra a Sérvia. Reservei minha bandeira do Brasil, minha camisa canarinho e meu boné para tal. Dane-se que capturaram tais símbolos pátrios para a política, não abro mão de torcer para a Seleção Brasileira numa copa do mundo de futebol, mesmo com a Fifa, com o Qatar e com a política brasileira sendo o que são. Aliás, torcerei contra a seleção do Qatar, o que não será nada difícil, visto o futebol horroroso que apresentaram na abertura contra o Equador. Eu até simpatizava com os caras, vi-os contra a Argentina na Arena Grêmio na Copa América, parecia o time do Caxias com aquelas camisas cor de vinho.
Ao fim, se o Brasil for hexa nessa copa, a expressão "vai te catar" pode adquirir um sentido positivo, remetendo à glória. Por enquanto, devido ao ocorrido com a bandeira pernambucana, brado: Vai te catar, Qatar! Pernambuco é Brasil sil sil!