João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Café com o confrade: o retorno

 

Já escrevi aqui sobre a Confraria do café com jornal sem carro, nosso grupo informal de amigos. Tomávamos café todo dia de manhã na lancheria da (ex) rodoviária de Charqueadas e conversávamos sobre as novidades e as antiguidades. A pandemia nos separou em março de 2020, mais precisamente no dia 19 daquele mês, última data em que nos encontramos. No final de agosto último já havia ido ali, sozinho. Pois hoje, dois anos, sete meses e 27 dias depois, reuní-me com um dos confrades para um café e bate-papo, no mesmo local.

 

Dois sobreviventes da pandemia, tomando café, comendo pastel e lendo jornal. Dois veteranos invisíveis e sem importância para o passeio público, dois CPFs válidos e sem rosto curtindo, ali, o retorno de um bom encontro para ambos. Ah, coisa boa, a vida é bela. Como escreveu Fabiane Mendes Grudzinski em Entre faróis, "seguiu, naqueles minutos, tomando café e contando sobre os ganhos da invisibilidade" social que a idade traz, junto com uma boa dose de sabedoria e experiência. Estávamos nós, bem nessas, tomando nosso café. Ah, por falar no livro de Fabiane, cujo autógrafo peguei ontem no último dia da Feira do Livro de Porto Alegre, trouxe para o confrade o livro A verdade revelada, de Omar Ferri, que ele pediu. Possui uma apreciável biblioteca trabalhista, um dia ainda escrevo sobre ela pra vocês.

 

Conversamos sobre o momento político - contei sobre a manifestação bolsonarista próxima à Feira do Livro - e sobre como estava o pessoal da confraria. Só perdemos um membro nesse período. Um cara legal, inteligente, educado, politizado, que morava no Centro da cidade. A covid o pegou em 2021, estava bem no hospital, mas abruptamente sua condição piorou, foi intubado e não sobreviveu. Sempre que ouço alguém minimizar a pandemia, lembro dele e de outros e outras que conheci, vítimas fatais dessa desgraça. Como algumas pessoas minimizam a morte, o sofrimento e a miséria, não é mesmo? Como se não importasse, por exemplo, saber quantos trabalhadores morreram nas obras da próxima Copa do Mundo, mas apenas curtir o megaevento. Dane-se quem morreu? Problema deles? Uma baita falta de empatia social num mundo, de diversas formas, cheio de perebas, doente e perdido em sua ambição desmedida.

 

Pois então, nossa conversa deu crônica, essa que vos escrevo. Daqui uns dias, quiçá, retomaremos a rotina com os demais confrades. Por hoje, valeu. "Cada dia conta, faça valer" - como disse o personagem do filme.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 16/11/2022
Alterado em 17/11/2022
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