Feriado na Feira: a travessia
Esta terça-feira, 15, é o último dia da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre e feriado nacional pela Proclamação da República. Está em casa, de bobs? Vá na Feira! Está retornando do feriadão e passará pela capital? Passe na Feira! Após duas edições virtuais devido a desgraça da pandemia, a Feira do Livro é bonança a ser vivida e compartilhada de forma presencial, tomando-se sempre os devidos cuidados. Sob o lilás dos jacarandás, pessoas livres e livros voltam a caminhar pela praça, os segundos nas mãos das primeiras.
A República sobrevive, democrática, pelas ideias e ideais que moram nas páginas dos livros. Isso é algo por demais maravilhoso, não é mesmo? Logo, a Feira do Livro é, sem paradoxo, um singular manancial de pluralidade e democracia! Isso é salutar para nós, sobreviventes, que passamos por muita coisa de 2020 pra cá e estamos aqui, vivos e com saúde, a fim de continuarmos contribuindo para a escrita da história de nosso tempo, sujeitos que somos desta.
Deixo uma dica para o último dia: às 16 horas, a sessão de autógrafos de Entre faróis - uma caminhada do Cassino ao Chuí, de Fabiane Mendes. Comprei e estou lendo esse livro, bem interessante em suas reflexões sobre a vida, ao trilhar o caminho pelo litoral do extremo-sul gaúcho. Como disse Riobaldo ao final de Grande Sertão: Veredas, "Existe é o homem humano. Travessia". E Entre faróis é da mesma editora do romance A cor do céu depois que chove, da escritora charqueadense Amanda Santos, assim dá pra passar na banca 9, da Editora Metamorfose, e comprar os dois títulos.
Finalizando, transcrevo um trecho de Entre faróis para vocês, onde Fabiane faz uma de suas reflexões durante sua travessia:
"Para mim sempre pareceu estranho, constantemente, buscarmos vertentes de felicidade no decorrer de nossas vidas. Realizações pessoais, profissionais, amores, filhos, sucesso e mais a pilha de pedidos ao lado da mesa. Imagino que, naturalmente, na medida em que nossas realizações se concretizam, as nossas metas diminuem até um breve soprar de brisa em nosso rosto. A evolução é assim mesmo, necessitar, cada vez mais, menos de tudo. (...) No mar de motivações que movimentam a vida, a sede para alguns é infinita. Felicidade condicionada cansa muito, mais até do que caminhar esses meus quase duzentos quilômetros de areia e mar.
Por sorte, posso dizer que depois de 100 quilômetros caminhados, acordei sem medo de findar minha felicidade. Estava saciada em todas as vontades e objetivos de vida. Entendi que eu era a vertente, e que não tinha uma meta com obstáculos a serem conquistados. (...) Na verdade, eu era o melhor 'nada' da minha vida. (...) Concluí, pensando nessas 'pessoas pérolas', que o tudo na vida é o nada. Ser 'um nada' é a melhor parte da vida. É quando realmente passamos a ter valor pelo nada que somos."
