Bebeto, (s)alves!

Fiquei muito triste com a morte de Olivia Newton-John esse ano e, agora, com a do Bebeto Alves. Ícones de minha geração, que bebeu na herança contra-cultural do rock e do pop dos anos 1950, 60 e 70 e que teve sua vez no final dos 70 e 1980. Bebeto foi um artista regional grande, muito grande entre a juventude gaúcha da época, surgido na mesma leva de Nelson Coelho de Castro, Gelson Oliveira, Totonho Villeroy, Nei Lisboa e Kleiton & Kledir, esses últimos com repercussão além fronteiras riograndenses. Sua morte, de certa forma até precoce, aos 68 anos, é uma história e postura artística referencial que se vai. A gente sente um baque.

Lembro de mim em casa, lá na Cohab, ouvindo a versão ao vivo de Notícia urgente (1) a todo volume no rádio ligado numa caixa de som Frahm 20 w, atormentando os vizinhos, mas feliz. Que tempo bom! Ou então o grande hit com o qual Bebeto tentou tomar o país, Quando eu chegar (2). Tem também uma de suas composições que mais gosto que é a belíssima Mais uma canção (3). Existem muitas mais, porém fico nessas. Ou melhor, há uma que não poderia esquecer, a que considero a mais forte e expressiva de suas composições, Pegadas (4). A música é vigorosa e a letra diz tudo. Bebeto, saibam, era uma cara da esquerda democrática.

"Caminhando pelas ruas de uma cidade americana

Eu percebo que não quero migalhas

Nem tampouco medalhas

Isso tudo é ilusão

Vendo as mesmas mentiras num país desenvolvido

Armado até os dentes pra guerra me dói o coração

Perceber a situação em que estamos

Envolvidos sem perspectivas de qualquer solução (yeah)

Nas pegadas das minhas botas

Trago as ruas de Porto Alegre

E na cidade dos meus versos

O sonho dos meus amigos"

Recentemente vi no You Tube Alves dizer que compos essa canção quando morou um tempo nos EUA, inspirado num bombardeio americano na Líbia (5). O refrão é uma referência ao seu lugar de origem no mundo. Nunca esqueço dele cantando Pegadas num showmício em Porto Alegre lotado de gente, no Largo da Epatur, na campanha de Olívio Dutra para o Governo do Estado. Apoteótico!

"E quando eu penso na razão que nos leva a acreditar

Que estamos mudando um país

Uma voz vem lá de dentro e me diz

Que o sistema no fundo é o mesmo

E em nós se perpetua

E não cabe mais aqui e agora

Essa máquina que nos fez aprendiz

De um poder vagabundo (yeah-yeah)"

Certa vez, numa das administrações do PT em Charqueadas, veio fazer um show aqui, o cantor e compositor charqueadense Alberto André foi quem articulou o lance. Disse na vinda pro Betinho que faria um show diferente, trabalhando uma estética de "milonga nova", um novo conceito musical, mas o pessoal estava esperando música popular gaúcha, rock e pop à moda Bebeto Alves... De outra feita, num evento político onde fez a parte musical, embora não lembre da canção que interpretou, recordo bem do violão Epiphone que usou - acho que é o que aparece na foto acima, à esquerda, junto a estante de livros. Que baita som tinha aquele violão, mas bah!

Poderia escrever mais, mais e mais sobre Bebeto Alves e sua importância para a minha geração, mas creio que está de bom tamanho assim. Quem sabe, sabe e entenderá o que quis passar com essa crônica. Por outro lado, penso ser difícil para quem não viveu aquela época ter a dimensão do que ele representou. Isso é coisa de determinado período e de determinada geração, essas coisas são assim mesmo. Concordam?

O importante é que Bebeto deixou suas pegadas por esse mundo, pelo Rio Grande do Sul e por Porto Alegre. Valeu, Bebeto Alves. Salve!

"Eu não vou morrer,

Desaparecer...

Na palavra 'fim', baby

Escrita em algum lugar" (6).

(1) - Vídeo You Tube: Notícia urgente - Bebeto Alves

(2) - Vídeo You Tube: Quando eu chegar - Bebeto Alves

(3) - Vídeo You Tube: Mais uma canção - Bebeto Alves

(4) - Vídeo You Tube: Pegadas - Bebeto Alves

(5) - Vídeo You Tube: Por trás da canção Pegadas, de Bebeto Alves

(6)) - Trecho de Depois da Chuva, canção de Bebeto Alves.