João Adolfo Guerreiro
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Uma crônica para Jorge Afre

 

Hoje, às 14 horas, na Biblioteca Romeu Lombardi, farei um bate-papo dentro da programação do VIII Sarau Literário de Charqueadas. A biblioteca fica no CEU Jorge Afre, e é sobre ele que falarei no encontro e também nessa crônica.

 

Este cronista que vos escreve, o Afre e o seu Romeu são pessoas da Cohab - atual bairro Sul América. Fomos para lá no final dos anos 1970, eu como criança acompanhando os pais e eles como homens feitos, no vigor da idade, estabelecendo-se com suas famílias. Morei na "vila" durante vinte anos, enquanto eles viveram nela até o final de suas passagens por esse plano físico e, atualmente, nomeiam, com toda a justiça, tanto o CEU quanto a biblioteca. Aterei-me aqui apenas ao Afre.

 

A Estação Cultura e Cidadania (CEU) não poderia ter sido batizada com nome mais adequado. Em primeiro lugar, por se localizar no bairro Sul América, local onde Jorge Afre Rodrigues residiu por mais de trinta anos e construiu sua biografia na cidade, como vereador e secretário de Obras. Em 1996, o "Barbudo da Boina" (1) foi eleito para a Câmara de Vereadores com a maior votação já obtida por um candidato até então, grande parte desta nas urnas da Cohab. Não há dúvida de que seu legado político foi o motivo para a homenagem recebida, entretanto o "Papai Noel da Cohab" (2) foi uma pessoa muito ligada ao esporte e as artes.

 

Jogou no futebol amador de sua cidade natal, Santa Vitória do Palmar, onde nasceu em 24/05/1949. Da mesma forma, praticou o esporte bretão em Rio Grande, na equipe do Exército, pois foi militar por alguns anos, e nos times da Aciaria da Aços Finos Piratini, em vários campeonatos internos da siderúrgica charqueadense - atual Gerdau. Ainda em Santa Vitória, integrou grupos de teatro como ator e, já em Charqueadas, encontrou tempo pra dedicar-se à literatura, mesmo com sua intensa e atarefada militância política e sindical - foi tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos. Publicou, em 1999, na I Mostra Literária de Charqueadas, quatro textos: as crônicas Construindo uma sociedade e Habeas corpus para dois inocentes e os contos Conversando com o espelho e Um dia de reflexão. Foi um dos literatos a participar do I Sarau Literário de Charqueadas, em 2005. Em 2002 lançou Poemas do coração e deixou pronto para publicação o romance de inspiração kardecista Algemas da razão.

 

Logo, quando estiver logo mais na Biblioteca Romeu Lombardi participando do VIII Sarau Literário, o farei justamente pelas palavras cidadania, esporte, arte, literatura e sarau terem tudo a ver com a biografia deste "mergulhão" (3) charqueadense e pelo CEU Jorge Afre Rodrigues representar fisicamente, com muita propriedade, seu legado. E também por ser gratificante ver boa parte do Sarau ocorrer, após uma pausa de 11 anos, nesse equipamento cultural público da cidade de Charqueadas e do bairro Sul América. Como disse ontem o patrono Max Belzareno em sua fala no Sarau, as coincidências dessa vida não são mero acaso. Acredito que seja o caso.

 

 

Notas:

(1) - A barba e a boina eram características marcantes de sua aparência, tanto que muitos assim o chamavam e "Barbudo da Boina" acabou por virar apelido.

(2) - Todo ano, na noite do dia 24 de dezembro, Afre se vestia de Papai Noel e passava pelas casas a fim de entregar brinquedos para as crianças, em visitas anteriormente combinadas com os pais. Em alguns anos ficava no quintal de casa, todo decorado e iluminado, e os pais levavam para lá as crianças, que aguardavam a chegada do Bom Velinho, sendo que essa se dava sempre de uma maneira diferente e inusitada. Muitos ainda guardam fotos de seus filhos faceiros ao lado do "Papai Noel da Cohab".

(3) - "Mergulhão" é o gentílico dos habitantes de Santa Vitória do Palmar.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 21/10/2022
Alterado em 22/10/2022
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