Hoje pude conferir as atividades da manhã e da tarde no VIII Sarau Literário de Charqueadas. Inspiradoras. O bate-papo com a simpaticíssima escritora Rejane Barczak na Biblioteca Municipal Profª Vera Gauss e os autógrafos dos alunos da Escola Henri Duplan no Espaço Valda Tissot.
Rejane é poetisa voltada para as coisas da cidade, principalmente para o rio Jacuí, tema muito presente em sua literatura. Foi patronesse do VI Sarau Literário, em 2010, uma literata ativa e participante no movimento literário que produziu o Sarau Literário e a Associação de Literatura de Charqueadas, a ASLIC. Presenciar sua atividade fez lembrar das antigas edições do evento e, estando na Biblioteca Vera Gauss, recordar desta, grande professora de literatura. Nunca esqueço do dia em que, no segundo grau na escola Assis Chateaubriand, colocou no toca-discos pra gente ouvir Construção, de Chico Buarque, e depois passou a analisar a "construção" poética da letra.
Na atividade organizada pela professora e escritora Tabatha Belzareno (foto acima), revivi aqueles momentos das quartas-feiras à tarde nas edições anteriores do Sarau, o Sarauzinho. Crianças produzindo literatura, isso é o máximo! Para mim, uma função mor do Sarau Literário e o que, em grande parte, justifica sua existência: abrir espaço para os novos talentos literários locais. Chamou-me atenção uma menina, Marina ou Mariana - não decorei seu nome -, que ao ir ao microfone justificar o texto que produziu, destacou que seu objetivo era dizer para as pessoas que não desistam de seus sonhos, através da história daquela tartaruga que queria morar no Nordeste e para lá viajou de avião. Quando a atriz e escritora Luana Diello lhe perguntou qual a dificuldade que teve para criar sua história, ela não titubeou: "Nenhuma". Adorei! O mais importante para um escritor não é ler, mas sim viver, pois produzir literatura é retratar ou recriar a vida. A língua é apenas um meio e exige uma técnica específica. Todavia, quando se vive e se sabe o que se deseja dizer sobre a vida, as dificuldades desaparecem e, como disse Coelho, o mundo conspira a nosso favor.
Estar no Espaço Valda Tissot, apenas pelo que ele representa, já é uma emoção. Antigo salão de festas do Sesi (a festa de casamento de minha irmã foi nele), o prédio situado na Avenida Cruz de Malta é onde atualmente fica a Secretaria Municipal de Educação. Dona Valda, inesquecível poetisa Valda Tissot Junqueira, quantos momentos literários tivemos o imenso privilégio de compartilhar ao seu lado nas antigas edições do Sarau, da qual foi a primeira patronesse, em 2005. O Espaço não é apenas uma homenagem ao seu legado que orgulha sua família, pois também enche o peito de todo o movimento literário da cidade e de Charqueadas como um todo. Grande Dona Valda, "a rima ainda está por cima", como a senhora nos disse num sarau.
E, finalizando, muito legal conhecer o livro infantil de Luana Diello, Deixa florescer, iustrado por seu filho de 12 anos, Jones. O objetivo de ter uma criança ilustrando o livro, segundo a autora, foi trazer a imperfeição e a verdade para o mesmo, humanizando-o e o aproximando esteticamente do público alvo. Concordo plenamente com isso e digo que o objetivo foi alcançado. Saí da atividade e fui até o Solar Shopping, aí sim, num ato insofismável de saudosismo para com as antigas edições do Sarau Literário, que lá eram realizadas. Bons tempos, tanto os do passado como os do presente, recriando a literatura popular local e abrindo novos caminhos para os atuais e futuros literatos de Charqueadas. Uma nova síntese dialética que é produzida, felizmente.
PS - A escritora Jane Tutikian foi hospitalizada e, infelizmente, não poderá realizar a palestra programada para hoje à noite. Em seu lugar falará o patrono do VIII Sarau, o escritor Max Belzareno. Amanhã o Sarau continua, confiram a programação em matéria no Portal de Notícias e na página do evento no Facebook. Vamos nessa!