Profissão: perigo
Charqueadas, historicamente, é terra do charque, do carvão, da energia termelétrica, do aço e das penitenciárias. Charqueadores, mineiros, metalúrgicos, eletricitários e agentes penitenciários, eis a base profissional da classe trabalhadora da cidade em sua história.
Sou neto, sobrinho e primo de servidores penitenciários. Alguns deles, obviamente, trabalharam no sistema antes mesmo da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) ser criada, pela Lei 5.745 de 28 de dezembro de1968. Meus avós maternos, ambos, serviram aqui mesmo em Charqueadas, nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Como nasci em casa, na Colônia, área residencial junto à Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), tive toda minha vida muito ligada à Susepe e seus servidores, principalmente os agentes penitenciários, pessoalmente e profissionalmente, como servidor. Meu pai, cabo da Brigada Militar, trabalhava na guarda externa das penitenciárias.
Escrevo isso por ontem, 12 de setembro, ter sido o Dia do Servidor Penitenciário gaúcho. A efeméride é estadual, pois em outros estados, como São Paulo, Mato Grosso do Sul e Bahia, por exemplo, esse dia é comemorado, respectivamente, em 12 de maio, 25 de setembro e 20 de novembro. No Rio Grande do Sul, a data marca o assassinato em serviço dos agentes penitenciários Jorge Luiz Rodrigues e José Carlos Baptista dos Santos que, em 1985, escoltavam o apenado conhecido pela alcunha de Topo-Gigio em ônibus do Expresso Caxiense na linha CaxiasxPorto Alegre, numa quinta-feira. Conforme o jornal O Pioneiro de 13 de setembro daquele ano - imagem acima -, três marginais alvejaram os agentes logo após o ônibus sair da rodoviária de Caxias e desceram na cidade de Portão, onde roubaram um carro e fugiram. Uma passageira resultou feriada.
Há muito não se faz mais escoltas em ônibus de linha na Susepe, mas, antes e depois de Rodrigues e Santos, outros servidores igualmente tombaram no cumprimento do dever, eis que o estresse, o perigo e o risco de vida fazem parte da labuta dos penitenciários desde sempre. O sistema penal gaúcho mudou muito, desde então. Para ficarmos apenas num detalhe perceptível às pessoas, antigamente, os servidores usavam roupas civis e eram identificados pelos coletes pretos com a identificação Agente Penitenciário escrita às costas, geralmente em cor de laranja, além do revolver calibre 38 na cintura. Recentemente foi aprovada a alteração do nome da categoria para Policia Penal, e os servidores hoje são vistos em uniformes táticos pretos, usando coletes balísticos e bem armados, com pistolas celibre 9mm e fuzis.
Claro que, com a nova nomenclatura, uma nova regulamentação da profissão ocorrerá, gerando uma série de mudanças no serviço penitenciário, sendo que este não mais será como foi nesses 54 anos de Susepe. O estresse, o perigo e o risco de vida, todavia, continuarão parte do cotidiano dos servidores penitenciários ao prestarem tão relevante serviço à sociedade riograndense.