Enquanto ainda há sol

Enquanto ainda há sol, aproveitem o dia e estendam as roupas úmidas no varal. Estejam preparados para a noite fria, quando a madrugada gelará os seus ossos. Sim, isso mesmo, lidar com o frio é uma questão de estar preparado para enfrentá-lo.

Logo, morrer de frio pode ser uma desatenção, mais do que uma escolha. E, como estamos no Brasil, pode ser também uma questão de falta de recursos, pois é um país onde tudo falta para muitos. Todavia, havendo recursos, façamos de conta que estamos na Sibéria, onde não faltam recursos e tampouco cultura para lidar com o frio extremo. Frio do corpo, bem dito, não da alma. Com o frio da alma o buraco é mais em cima. Fiquemos no frio do corpo, para o qual há jeito e recursos siberianos.

Gaúcho siberiano não reclama do frio, gaúcho siberiano enfrenta o frio. Tem cultura para isso. Gaúcho siberiano, o idealizado, não o gaúcho brasileiro, o real, que tem de lidar com a falta de recursos. Acentuo isso a fim de ser plenamente entendido, pois as pessoas às vezes levam tudo ao pé da letra, mesmo quando essa é intencionalmente perneta. O fato é que ainda há sol, então estendam as roupas úmidas no varal e preparem-se para a madrugada fria.

A primavera ainda está relativamente longe, mais ainda o verão. Pode ser até que esse inverno perdure por muito mais tempo do que o esperado, trazendo um clima siberiano que se estenderá da Linha do Equador ao Trópico de Capricórnio. Há precedente, não é algo fora da realidade. Enquanto os ricaços canarinhos brindam com doses de ouro capitalista e tecem elogios ao gulag siberiano de outrora, embriagados de saudade dos bons tempos do comunismo soviético local verde-oliva, os que não tem recursos hão de aproveitar o sol, estender as roupas no varal a fim de estarem prontos para enfrentar o frio da noite que virá e da madrugada que promete.

Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se e fiquem com Deus.