Deus e o Diabo na Terra do Frio?
Chegando no Banrisul, ao olhar para a esquerda - ou para a direita, dependendo por onde se chegue -, vê-se a imagem acima, na ponta da praça da prefeitura. Os dois, ali, lado a lado, quietos e sorridentes, sem brigar, a fim de garantir as vendas e o sustento do simpático paraibano que veio "lá de cima", da Terra do Sol, para vender aqui na Terra do Frio, em Charqueadas. Cinquenta e cinco pila cada, de saída, mas creio que saia por menos na pechincha. O capitalismo não possui ideologia, apenas preço, seja na banca ou no banco.
Dada a polarização da política nacional, um deus e um diabo lado a lado, dependo do ângulo ideológico - esquerdo ou direito - pelo qual se julgue qual deles é quem: Deus e o Diabo na Terra do Frio? (1). Há possivelmente quem julgue tratar-se de dois demônios, mas esses, pelas pesquisas até o momento, são a absoluta minoria, ou seja, a conjuntura política nacional trafega por uma via de duas mãos. Assim, o caminho está propício para o antagonismo, não para a pluralidade. E o problema dos antagonismos é que eles são preto&branco, não coloridos, isto é, simplificam a realidade ao invés de dar conta de sua complexidade.
É por isso, absolutamente por isso, que conceitos do início do século passado voltam a nos assombrar como fantasmas, nascendo a irreal e tola disputa entre "fascistas x comunistas" (2). O problema de se ir ao museu do pensamento político nacional e trazer para a luz do dia tais múmias é que elas podem criar vida, tornando-se zumbis, esses seres que não são vivos, mas sim mortos-vivos. Não fazem parte desse mundo e não dão conta da realidade atual, mas se movem por ela como caricaturas sedentas de poder.
No senso comum que embala a visão antagonista do próximo pleito nacional, temos o verde e o vermelho, a bandeira e a estrela, o militar e o civil, o miliciano e o sindicalista, o genocida e o ladrão, o presidente e o ex-presidente, o mito e o metalúrgico, o messias e o líder, o autoritário e o democrata, o liberal e o socialista, o voto impresso e a urna eletrônica, etc, etc, etc... A terceira via que tenta romper o P&B e dar uma cor para a disputa, pela esquerda ou pelo centro, com Ciro e Simone - apenas para citar duas entre várias opções -, até o momento carece de força para penetrar na consciência coletiva nacional.
Por isso que o vendedor não trouxe toalhas com o rosto deles estampado: eles não vendem porque não conseguem se vender. O capitalismo e a necessidade não possuem ideologia, só preço e margem de lucro. O Brasil, por outro lado, precisa de soluções para seus complexos problemas e para as dificuldades que o povão assalariado, nos últimos seis anos, passou a enfrentar.
Notas:
(1) - Alusão ao filme de Glauber Rocha (1939 - 1981), Deus e o Diabo na Terra do Sol, de 1964.
(2) - Jornal Portal de Notícias, 18set2018: Fascistas x Comunistas? - por João Adolfo Guerreiro
