Marilyn e Andy: a bela e a fera
Dia 9 de maio o quadro acima, Shot Sage Blue Marilyn, pintado por Andy Warhol em 1964, foi vendida por 195 milhões de dólares (quase um bilhão de reais) e tornou-se a obra de arte mais cara do século XX. Uau syl! Na verdade trata-se de uma das cinco serigrafias de acrílico e seda sobre linho feitas pelo artista, cada uma com a foto promocional da bela atriz Marilyn Monroe, clicada por Gene Korman para o filme Niagara (1953), trabalhada em cores diferentes (imagens abaixo).
A princípio, ficaram no estúdio do visionário e precursor, fera da chamada Pop Art, empilhadas uma sobre a outra. Uma amiga de Warhol as viu a perguntou se podia "atirar" nelas, ao que Andy ingenuamente respondeu que "sim" - "atirar", em inglês, também significa "retratar", na gíria. Entretanto, a mulher sacou de uma arma e literalmente disparou sobre as pinturas. A da nossa imagem, por sorte, não estava na pilha e escapou ilesa.
Hoje faz 60 anos da morte da atriz, ocorrida em 4 de agosto de 1962, e 2022 marca os 35 anos do falecimento do artista, aos 59 anos. A obra mais cara do século XX, pintada por um dos maiores artistas do século e retratando o grande ícone pop do mesmo: emblemático e sintomal. Warhol, ao trabalhar em sua arte com a reprodução de rótulos de produtos e rostos de celebridades artísticas e políticas, dentre outros itens da cultura popular decorrentes da indústria de massas em qualquer um de seus setores - cultural ou material -, antecipou o que estava em gestação e se tornaria o signo de nosso tempo, ainda em voga
As pessoas nascem seres humanos comuns e, por diversas circunstâncias tanto históricas quanto pessoais, se tornam mitos. Não dá para separar a pessoa concreta do mito dela decorrente - um não existiria sem o outro -, são unificados, embora cada uma tenha sua própria dimensão aos olhos do mundo exterior, onde exercem seu efeito, representatividade e influência. Assim, o culto do mito vem não com o nascimento - esse é o marco biológico do ser humano -, mas com sua morte, que "finaliza" a obra e a entrega para posteridade, marco cultural e ideológico. Quando Warhol fez as serigrafias de Marilyn, dois anos após sua morte, cultuava o mito, não a mulher.
Talvez uma serigrafia da moça Norma Jeane reproduzida por um serígrafo qualquer não valesse um real hoje, isso se ainda existisse alguma cópia. Todavia, a de Norma Marilyn Monroe Jeane, reproduzida por Andy Warhol, é a obra de arte mais cara do século XX. Repito e insisto: emblemático e sintomal.