Não chore por mim, Argentina
Imaginem uma mulher tão poderosa, mas tão poderosa que, até depois de morta, causava tanto efeito sobre seus adversários que seu corpo foi escondido pelos golpistas que tomaram o poder? Pois então, esse fato é verídico e essa mulher existiu: Maria Eva Duarte de Perón, a primeira-dama argentina Evita Perón, tão popular no mundo quanto seu conterrâneo Che Guevara e mais do que Maradona e Carlos Gardel.
Evita, atriz de profissão, viveu apenas 33 anos, morrendo de câncer em 26 de julho de 1952 - há 70 anos, amanhã. Casada com o presidente Juan Domingo Perón - o Getúlio Vargas hermano -, militar e líder político populista, foi a alma popular de seu primeiro governo (1944 - 1955), uma mulher de origem humilde - filha bastarda de um fazendeiro com uma costureira - com profunda ligação com os direitos dos pobres, dos trabalhadores e das mulheres - o voto feminino na Argentina, criado em 1947, ocorreu por influência sua. Quando depuseram Perón em 1955, os golpistas mandaram em segredo o corpo embalsamado de Evita - que recebia visitação pública - para a Itália, enterrando-o no Cemitério de Milão. Perón só recuperou o corpo da esposa em 1971, quando estava em Madri. Em 1974, quando este morreu no início do exercício de seu segundo governo, sua nova esposa, Isabelita Perón, trouxe o corpo de Evita de volta para a Argentina, sepultando-o em Buenos Aires.
É uma história cabulosa, não é mesmo? O Peronismo perdura até hoje como força política na Argentina, via o Partido Justicialista, atualmente no governo. E foi tão grande o impacto de Evita na vida pública argentina e tão arraigado na memória do povo o seu legado, que ultrapassou as fronteiras do país e, mesmo, da América do Sul. Em 1976, 24 anos após seu falecimento, os compositores britânicos Tim Rice e Andrew Lloyd Webber criaram a peça musical Evita, cuja estreia foi em 1978. A peça virou filme hollywoodiano em 1996, com ninguém menos do que a maior pop star de década de 1990, Madonna, no papel principal, como Evita. A canção mais famosa deste musical é Don't cry for me Argentina (Não chore por mim, Argentina). Qual outra mulher de origem latina não nascida nos EUA, além dela e da pintora mexicana Frida Kahlo, teve cinebiografia numa superprodução de Hollywood?
Passados 70 anos de sua morte precoce, a figura de Evita Perón ainda inspira aquelas pessoas que lutam por uma sociedade mais justa em toda a América do Sul e no mundo. Logo, não chorem por ela, mas lutem como ela.
Uma ótima semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se e fiquem com Deus.