João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Dez anos de Portal:

"Mensagem ao futuro"

 

(Esse texto será publicado amanhã, sexta-feira, 24 de junho, no jornal Portal de Notícias)

 

Comecei no jornal Portal de Notícias escrevendo artigos semanais na versão impressa. Depois, as crônicas, meu gênero literário preferido, passaram a predominar, principalmente agora na versão online, onde cheguei a publicar de segunda à sexta-feira durante a pandemia. Desta forma, vou republicar os meus textos mais lidos de cada gênero, hoje e segunda-feira, nesta série de textos comemorativos aos dez anos no Portal de Notícias, iniciada ontem. Começarei pelo artigo.

 

O mais lido no Portal foi o que escrevi em novembro de 2015 sobre um vídeo famoso na internet, Mensagem ao futuro, de Bertrand Russell. Outro texto atual, diria até atualíssimo, com todo mérito disso para as sábias palavras de Russell, um dos grandes pensadores da história mundial. Num mundo onde a intolerância, o ódio, a guerra e a ameaça nuclear ainda são presentes e parecem até recrudescer, o filósofo ainda tem muito a nos ensinar, sendo seu legado farol para a humanidade.

 

Na segunda-feira será a vez da crônica mais lida nesta década de colaboração com o Portal. Um bom final de semana para todos, cuidem-se, vacinem-se e fiquem com Deus.

 

Bertrand Russell: mensagem ao futuro

 

Há 45 anos [52 em 2022], no dia 3 de fevereiro de 1970, falecia, de gripe, aos 98 anos, o matemático e filósofo britânico Bertrand Russell, um dos grandes pensadores do século XX, agraciado com o Nobel de Literatura em 1950. Dentre as inúmeras facetas de sua vida pública e intelectual, foi, ao lado de Albert Einstein, um ativo militante contra as armas nucleares, sendo que, juntos, lançaram um manifesto pelo desarmamento em 1955.

Entretanto, o que me leva a evocar brevemente seu enorme legado aqui é a famosa resposta que dá a uma pergunta durante entrevista de TV, vídeo que seguidamente as pessoas compartilham nas redes sociais da internet. Era o ano de 1959. Russell, já com 86 anos, concedeu a entrevista ao jornalista John Freeman no programa Face to Face, na rede de inglesa BBC. Eis a parte final da mesma:

“John Freeman - Uma última pergunta. Suponha, Lord Russell, que esse filme seja assistido por nossos descendentes, como os pergaminhos do Mar Morto, daqui a mil anos. O que você acha interessante dizer a essa geração sobre a sua vida e as lições que você aprendeu?

Bertrand Russel – Eu gostaria de dizer duas coisas, uma intelectual e outra moral. O conselho intelectual que eu gostaria de dar é esse: quando você está estudando um assunto, ou considerando alguma filosofia, pergunte a si mesmo, somente, quais são os fatos e qual é a verdade que os fatos revelam. Nunca se deixe divergir pelo que você gostaria de acreditar ou pelo que você acha que traria benefícios sociais se fosse acreditado. Olhe apenas e somente para quais são os fatos. Esse é a recomendação intelectual que eu gostaria de dar.

O conselho moral que eu gostaria de dar é muito simples. Eu diria: o amor é sábio; o ódio é tolo. Nesse mundo que está ficando mais interconectado, nós temos que aprender a tolerar uns aos outros, nós temos que aprender a aceitar o fato de que algumas pessoas dizem coisas que não gostamos. Nós só podemos viver juntos dessa forma, se formos viver juntos e não morrer juntos. Nós precisamos aprender a bondade da caridade e da tolerância, o que é absolutamente vital para a continuação da vida humana nesse planeta.”

Não é à toa que a resposta repercuta nos dias atuais com tanta força. Há 70 anos do final da IIª Guerra Mundial, ainda estamos imersos numa cultura do ódio (principalmente manifesto na internet) e da violência, tanto nas relações em sociedade quanto entre países. A resposta expressa dois princípios, intelectual e moral, que se complementam. Primeiro, procurar conhecer as coisas da forma mais objetiva possível; segundo, praticar a tolerância. Uma coisa leva a outra.

Justamente ao falar sobre as experiências totalitárias de seu tempo, principalmente da Alemanha nazista, Hannah Arendt encontrou a gênese do totalitarismo (a forma mais extrema de autoritarismo) na ausência de reflexão das pessoas que a ela aderiram. Assim, essa irreflexão levou a um agir irracional, onde a falta de reconhecimento da condição humana do outro prevaleceu, levando a um limite extremo de intolerância. Foi a partir dessa noção que ela elaborou o seu famoso conceito de banalidade do mal, caracterizando um fenômeno totalitário que foi aceito irreflexivamente e praticado naturalmente por pessoas comuns, nas quais a presença de uma maldade extrema não era encontrada.

A resposta de Russell, atualíssima, nos leva a um sentido oposto a intolerância e a irreflexão. Devemos voltar ao passado, sempre que ele ajude a pensar o presente.

 

You Tube: Entrevista completa - Russell à BBC, 1959 (legendada)

 

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 23/06/2022
Alterado em 23/06/2022
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