Era tão bom que virou estátua!
Não, não é o Romário e nem o Renato Gaúcho, mas é outro cara do Rio de Janeiro. Escrevo sobre o sambista Noel Rosa, o Poeta da Vila (Isabel). Acho que hoje seria mais adequado chamá-lo de Cronista da Vila Isabel, eis que seus sambas eram verdadeiras crônicas cariocas.
No final dos anos 1970 eu residia na Colônia e minha mãe estudava música na Faculdade Palestrina, em Porto Alegre. Quando retornava, sempre comprava em banca o mais novo fascículo da Nova História da Música Popular Brasileira e trazia pra casa, onde os olhos e ouvidos ávidos do Joãozinho o esperavam ansiosamente. Seguido falo dessa coleção por aqui e afirmo: quem quiser conhecer a História da MPB, se a encontrar em sebos ou na internet, compre, ouça e leia. Fundamental!
Pois então, certa vez chegou em casa com esse fascículo da imagem aí de cima. Achei estranha e feia essa foto de um cara quase sem queixo, mas ouvi o LP enquanto lia o encarte sobre a vida do artista. Assim, além de gostar bastante do samba Fita amarela ("Quando eu morrer Não quero choro nem vela Quero uma fita amarela Gravada com o nome dela"), descobri que o queixo diminuto foi sequela do nascimento, eis que teve de ser puxado à ferros do útero materno. Pobre mãe! Entretanto valeu a pena, pois pariu um músico genial, autor de letras inteligentes e muito bem humoradas.
Noel, oriundo de uma família de classe média, morreu muito cedo, de tuberculose, aos 26 anos - há exatos 85 anos, hoje. Mesmo assim, continua sendo lembrado por sua obra e é considerado um dos grandes compositores populares brasileiros de todos os tempos, tanto que existe uma estátua (foto abaixo) em sua homenagem na entrada da Vila Isabel, onde um graçom o serve. E tem tudo a ver, pois o cara era um pândego! Boêmio, namorador, frequentador de cabarés, tocador de violão e bandolim e compositor de sambas. Fez de tudo na curta vida, menos frequentar e concluir o curso de medicina.
Rosa compôs canções memoráveis e impagáveis, dentre elas a já citada Fita amarela, Com que roupa?, Gago apaixonado, Filosofia, Positivismo, Feitiço da Vila, Três apitos, Conversa de botequim, João Ninguém, Mulher indigesta, Onde está a honestidade? e O orvalho vem caindo, todas deliciosíssimas de se ouvir. Aliás, escutar um músico é melhor de que escrever sobre ele, então encerrarei essa crônica deixando essas canções abaixo pra vocês conferirem.
PS - Ah, ia esquecendo: há um filme sobre o sambista, de 2006, chamado Noel - Poeta da Vila, que se encontra disponível no You Tube.
Escutar:
Positivismo (Noel Rosa e Orestes Barbosa)
Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico)
Conversa de botequim (Noel Rosa e Vadico)
Onde está a honestidade? (Noel Rosa e Francisco Alves)
O orvalho vem caindo (Noel Rosa e Kid Pepe)