Posteridade
A vida, quando é boa, é como um copo de água limpa e fresca num dia de outono pela manhã. Se estás num lugar com natureza ao entorno, então é só abrir a janela e se imantar dela, apreciando a vida e a dádiva que é existir com o ar passando livre pelas narinas e inflando os pulmões. Eis meus bordões, quem me lê por aqui já os conhece e os identifica nas crônicas.
Celebrar a vida com um copo de água limpa e fresca numa manhã de outono. Precisamos de muito pouco para vivermos e sermos felizes, de tão pouco que a gente seguido esquece de valorizar e apreciar esse pouco, perdidos que estamos na busca de superficialidades e excedentes supérfluos e, até mesmo, nocivos. "Eu quero uma casa no campo Onde tenha somente a certeza Dos amigos do peito e nada mais Onde eu possa ficar do tamanho da paz E tenha somente a certeza Dos limites do corpo e nada mais Eu quero o silêncio das línguas cansadas Eu quero a esperança de óculos E meu filho de cuca legal Onde eu possa plantar meus amigos Meus discos e livros e nada mais", como na canção do Zé Rodrix cantada pela Elis Regina, algo por aí, nesse sentido, sacaram? Não precisa ser uma casa no campo, mas sim uma casa onde o nosso coração esteja, eis que o nosso lugar é onde por quem nosso órgão pulsante do líquido rubro da vida se encontra.
Um copo de água fresca, coisa hoje escassa em muito lugar no "planeta água" cantado pelo Guilherme Arantes, como lá em Portugal, por exemplo. A gente se preocupa com tanta bobagem nesse mundo e não nos damos conta de que, se pudéssemos deixar um lugar de mato verde e com água limpa onde nossos netos possam sentar e matar a sede, já estaremos fazendo muito pelo futuro de um mundo bom para a humanidade, onde as pessoas possam levar uma vida boa, em paz. Ah, santa palavrinha: paz. Paz e liberdade, essas primas-irmãs. Tem gente que, em vez de desejar "Ter na vida simplesmente Um lugar de mato verde Uma casinha branca de varanda Um quintal e uma janela Para ver o sol nascer" da qual o Gilson fala noutra canção, prefere poder e vil metal, esses outros primos-irmãos que cheiram a morte e a guerra. O que tu achas que estás ocorrendo na Ucrânia, nesse momento? EUA e Rússia, os dois impérios nucleares predadores deste mundo liberal e capitalista, não por acaso representados no imaginário mundial por uma águia e um urso, estão lá, disputando poder e influência geopolítica. E se danam os pequenos, principalmente os que cometem a estupidez de contar com uns e desafiar os outros, como o tolo e ambicioso governo ucraniano cometeu o desatino de fazer, para desespero e sofrimento do povo daquele país.
Ou aqui no nosso país, esses que ficam comemorando a desprezível e infame ditadura militar, que matou gente, tirou a liberdade e a paz, solapando a democracia. Notaram que, não por acaso, geralmente estão inclusos nesses aqueles que são contra vacina e negam a pandemia? Logo, tudo também gente do poder e do vil metal, parentes desses primos-irmãos que fedem a morte e a guerra. Esse pessoal todo não vai deixar nada de bom para a posteridade. Aliás, há tempos eles não vem deixando nada bom para a humanidade, ao longo da história, que não seja dor e sofrimento, como estamos vendo lá na Ucrânia. E tampouco água limpa ou mato verde, eis que poluem e depredam a natureza, também. Pessoas antagônicas à vida, à paz, à liberdade, à democracia e à natureza, eis que tudo consomem e destroem por seus intere$$e$, explodindo o órgão pulasante da vida e derramando no solo o liquido rubro da vida.
Se tu podes, tome teu copo cheio de água limpa e fresca nesta manhã de outono, aproveitando a tua vida boa e, de tua parte, deixando para a posteridade isso para os teus, contribuindo para um mundo melhor.
Imagem: site Greensavers