João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Capa Meu Diário Textos Áudios Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos

Charqueadas, onde está o rio?

 

Parece uma pergunta bastante óbvia, não é mesmo? Todos sabemos que ele está ao Norte, na divisa com Triunfo, onde sempre esteve, desde os tempos imemoriais. Entretanto, a questão sugere, implicitamente, outra coisa...

 

No dia 26 de março de 2018, uma segunda-feira, estive numa escola local a fim de conversar com alunos a propósito dos 36 anos de Charqueadas, à convite da professora. Como era um bairro situado às margens do rio Jacuí, qual não foi a minha surpresa ao constatar que apenas dois alunos já o tinham atravessado até a outra margem e que a maioria absoluta não possuía o hábito de ir ao rio? Minha surpresa era ampliada pelo fato de eu ter nascido e morado na Colônia e, quando criança, ter vivido intensamente uma relação cotidiana com o rio, junto com meus amigos de infância. Outros tempos, como na canção do Alberto André? Parece que sim.

 

Charqueadas nasceu por estar localizada estrategicamente junto ao rio, no período do charque, onde aqui foram instaladas dezenas de charqueadas, como bem sabemos. E vivia em função do rio, com o transporte fluvial para Porto Alegre e com sua vida social acontecendo às suas margens. Depois vieram a Usina Termoelétrica e a Aços Finos Piratini (hoje Gerdau) e, com elas, a ponte sobre o Arroio dos Ratos, deslocando a urbe do rio para o centro localizado no entorno do Clube Tiradentes e da antiga rodoviária, em seus locais atuais. O transporte fluvial colapsou. Após a emancipação, com a construção dos prédios da Prefeitura e da Câmara de Vereadores, esse processo só se acentuou, a ponto de, hoje, a vida social da cidade se dar em frente ao Parcão, na entrada da cidade, junto à ERS.

 

Esses dias fui ao rio com familiares e, ao tirar os calçados para entrar na água, fui severamente advertido: - "Não entra aí, vai dar mau exemplo pro menino!" A criança que estava conosco não deveria ser estimulada a entrar no Jacuí, e, devo dizer, meus parentes estavam cobertos de razão e eu fora descuidado. Devido ao perigo da profundidade? Não, por causa da sujeira do esgoto não tratado! Um nojo. E uma lástima. Imagina, não poder entrar no rio onde me criei nadando devido à sujeira? Mas é a realidade.

 

Nós, charqueadenses, no presente, estamos de costas para o rio, despejando neles nossas necessidades fisiológicas. E o Jacuí é o nosso maior patrimônio, o que nos diferencia, junto com São Jerônimo, Triunfo e General Câmara, de outras cidades gaúchas. E, atentem, esse manancial é o único futuro garantido que possuímos. O ciclo das charqueadas é apenas museu, a mina está desativa e o carvão excluído da matriz energética nacional e a Usina fechou. Quem nos garante a Gerdau, pelas décadas futuras? E, num caso negativo, o que sobraria? Apenas as penitenciárias? Já estivemos em situação muito melhor de emprego e renda e, na atual realidade mundial e nacional de desemprego estrutural tecnológico devido à revolução digital, qual a nossa perspectiva? O rio.

 

Voltar-se novamente para o rio é um projeto de cidade que deve ser pensado por nossa classe política, principalmente a que está com mandato eleito no Executivo e no Legislativo, em conjunto com os demais setores econômicos e sociais de nossa cidade. Não é coisa que sairá de uma cabeça iluminada, mas sim de uma construção coletiva. Como o rio, nosso maior e mais seguro patrimônio, se insere em nosso projeto futuro de sociedade enquanto gerador de emprego, renda e qualidade de vida, ponto de interação social e lazer? Há muito o que se pensar sobre isso, um grande projeto de revitalização da orla, iniciando por saneamento e tratamento de esgoto. É muito dinheiro, um investimento alto. Deve ou não deve ser feito, visando o futuro? É o caminho a ser pensado, visando-se o centenário da cidade, que à Deus e ao livre arbítrio humano pertencem?

 

Assim, quando vou até o Jacuí, costumo olhar na direção da Colônia, de onde vim, e pensar: Charqueadas, você ainda sabe onde está o rio? Um bom final de semana para todos, cuidem-se e fiquem com Deus.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 31/03/2022
Alterado em 31/03/2022
Comentários