João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Um ano bom

1977 foi um excelente ano para mim. Foi quando eu tomei a primeira decisão de minha vida: virei torcedor do Grêmio. Futebol, para um guri da Colônia nos anos 1970, era algo importante. Ou tu era gremista ou tu era colorado, não havia espaço para muristas na terra onde Cláudio Duarte jogou no Elite.

Antes disso eu era puro destino: filho de meus pais, estudante do Ramiro Barcelos, morador da Colônia. Nada disso, nem meu nome, havia sido escolha minha. Eu tomei a decisão de ser gremista e, confesso, foi por motivos puramente estéticos: achava o distintivo e a camisa do Grêmio mais bonitos. Lembro de um chaveiro que meu pai tinha, com o distintivo do Grêmio. Era algo maravilhoso. Deitando e esforçando bem a mente, com os olhos fechados, consigo chegar perto do encantamento que sentia. Era uma sensação muito boa. Eu achava o do Inter muito bonito também, gostava daquelas letras cruzadas, a mãe era colorada, mas o do Grêmio tinha algo que eu não sabia dizer o que era e que me deixava encantado.

Então eu era apenas um guri da Colônia, que estudava no Ramiro, filho de brigadiano e de professora, que morava em frente de uma grande paineira e andava pelas ruas de chão, durante a década de 1970. Eis minhas referências primeiras. Parece que foi ontem? Não, parece que foi em outra encarnação! Passaram-se 45 anos deste seminal ano de 1977, mas, na minha mente, parece que foram 450. O ano em que comecei a tomar minhas próprias decisões. É o local e a época de onde eu vim. “Quem não sabe de onde veio não sabe quem é e para onde vai”, já li por aí.

Lembro bem de, naquele ano, ouvir a “Rádio Caiçara, onde a música não pára!” e a Itaí, com o Sayão Lobato (“Não diga não”). E jogos do Grêmio na rádio Gaúcha, com o Haroldo de Souza. Ouvi pela voz dele o Grêmio ser campeão gaúcho no Olímpico com o gol do André Catimba no goleiro Benitez. Ele foi dar uma cambalhota e se quebrou, ao ir comemorar o gol. E recordo também do gol do Basílio para o Corinthians, na final contra a Ponte Preta (onde o grande Dicá jogava). Ouvia ABBA, Boney M, Sidney Magal, Sílvio Brito, Teixeirinha, Trio Parada Dura, Milionário & José Rico (“Nessa longa estrada da vida”), Celly Campelo (“Ó cupido, vê se deixa em paz”), Roberto & Erasmo Carlos, Benito di Paula e muita Disco Music. Tinha uma novela chamada Estúpido Cupido que eu via na tv Teleotto P&B valvulada, junto com O Bem Amado. Seriados como Perdidos no Espaço (foto acima), Ciborg, Ultraman, Viagem ao Fundo do Mar, Batman, Rin Tin Tin e filmes da Marilyn Monroe, Audie Murphy, John Wayne, John Travolta (Os Embalos de Sábado a Noite) e Elvis Presley. Ah, foi o ano em que Elvis morreu, sentado no vaso do WC da casa dele, um fato que repercutiu demais.

1977, há 45 anos, minha origem. Um mundo de TV, rádio, revista e jornal. Sou um cara dos anos 1970, da Colônia, que queria ser o Sidney Magal e cantar Sandra Rosa Madalena. Das redes sociais uso principalmente o Facebook, mas ainda leio jornal, revista e livro. No papel. A vida anda pra frente e eu sigo nela, adaptando-me. Viver é sobreviver. A grande boa lembrança desse ano bom e desse tempo é que meus pais eram vivos, relativamente jovens e legais comigo. Nunca te esquecerei, 1977.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 17/03/2022
Alterado em 17/03/2022
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