João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Perdido fora de campo

 

Vamos aqui hoje cronicar sobre futebol. Desde o início da pandemia quase nada falei sobre o esporte bretão, pois ele deixou de ser importante face a realidade sanitária vivida que, dizem hoje os jornais, começa a perder força no Rio Grande do Sul. Esperemos que, dessa vez, seja realmente o começo do fim. O fato é que as notícias alvissareiras nos fizeram, de certa forma, voltar a uma determinada normalidade e se preocupar com coisas secundárias, como o futebol, um tema tudo a ver com a crônica desde o magistral Nelson Rodrigues dos anos 1950.

 

Pois o Grêmio ainda está no seu estado anormal, ou seja, mais uma vez trocou de técnico. Uma troca, agora, simbólica: em 2015, ao assumir o lugar do grande Felipão, Roger Machado deu início ao Grêmio vencedor dos anos seguintes. Iniciou, pois quem teve os resultados a partir de novembro de 2016 e até virou estátua foi Renato Portaluppi, seu sucessor. E entrou numa fase de normalidade excepcional, levantando várias taças até o início do ano passado, quando Renato saiu e o Grêmio viveu sua própria pandemia, terminando por cair para a série B. Entretanto, como em futebol tu morres no domingo para ressuscitar já na segunda (sem trocadilhos, por favor), eis o Grêmio seguindo sua anomia em 2022, demitindo Vagner Mancini, líder invicto do Gauchão, até aqui.

 

Quando o mesmo Roger não quis assumir na fogueira em 2021, foi Mancini que segurou o rojão. Perdeu a mãe num dia, no outro estava tocando o time. Baita profissional, muito comprometido com o clube. Não foi sua culpa o Grêmio ter caído. Nem do Renato, do Tiago Nunes e do Felipão, técnicos que o antecederam no espinhoso 2021. Como pode ser culpa de técnicos tão tarimbados o inexorável desfecho? Mais fácil ter sido a fatídica troca entre eles, começando lá atrás, com Renato, que não deveria ter saído. Recentemente o Homem-Gol, a Estátua Viva da Arena, disse que, se tivesse permanecido, o Grêmio não cairia. Concordo.

 

Mas agora, com um trabalho muito bom em andamento - aliás, como estão Inter e Juventude, clubes, hoje, da série A, no Gauchão? - tiraram Mancini, devido às vais da "torcida" no recente empate de 1x1 com o Juventude na Arena. Os grupos organizados que vaiaram o Grêmio de Mancini, líder do Campeonato Gaúcho, foram os mesmos que, ano passado, jogaram pedras, paus e foguetes contra o ônibus da delegação na entrada do CT de Eldorado do Sul e que, não satisfeitos, invadiram o campo após uma derrota para o Palmeiras, quebrando a cabine do VAR e arrumando um baita prejuízo para o Grêmio, que perdeu mando de campo na reta final do campeonato, ajudando a enterrar de vez as chances do clube em sua luta pela permanência na série A. Então foi pelo grito desses que a direção serviu a cabeça do treinador, literalmente, numa bandeja de prata? Suprir a "vaidade" e o delírio dessas "salomés" violentas e antidemocráticas - praticamente protofascistas - dando-lhes a cabeça de um excelente profissional, comprometido com o clube, à frente de um trabalho que iniciou 2022 dando resultados? É para isso que quase uma centena de milhares de sócios - a maioria silenciosa - pagam em dia suas mensalidades e compram artigos oficiais na Grêmio Mania?

 

Assim, muito ao contrário de deixar 2021 para trás, o Grêmio o reedita, repetindo o erro mais marcante do ano passado, o da troca de técnicos - nada contra o Roger, pois é outro ótimo profissional a quem o Tricolor recorre. O Grêmio está perdido é fora de campo, recalcitrante em passes errados, cruzamentos pra fora da área, escanteios cobrados além do segundo pau e chutes por cima do gol, com todo o respeito que devo ao nosso vencedor e eficiente presidente, Romildo Bolzan Júnior - todavia, os resultados o demonstram, cabalmente.

 

Aliás, essas organizadas nem deveriam estar nos estádios, fazendo aglomeração sem respeitar as recomendações sanitárias e epidemiológicas, com a Ômicron por aí. Imagina, ter torcida em estádios de futebol nesse momento, em que o noticiário disse que, mesmo em queda, o "paredão" da Ômicron no Rio Grande do Sul pode ter um repique devido às aulas 100% presenciais e ao carnaval? "Pare o mundo que eu quero descer", como cantou o Raul Seixas. Ou, já que "a coisa tá ficando russa", como também cantou a gremista Elis, deixem eu fazer coro com o legionário Renato Russo: "Quero me encontrar, mas não sei aonde estou".

 

Bola pra frente, hoje à noite, com União Frederiquense X Grêmio, em Frederico Westphalen. Dá-lhe Grêmio, nem que seja no poste ou no travessão.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 16/02/2022
Alterado em 16/02/2022
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