O Gigante invejado pelo grande Sant'Ana
Essas coincidências curiosas da vida. Semana passada conversava com minha esposa amenidades e, sei lá como, falamos sobre o Roberto Gigante, ator, cantor, colunista social e comunicador gaúcho que marcou época no programa de TV Jornal do Almoço, nos anos 1970. Será que ele ainda está vivo? Ela procurou rapidamente algo no seu celular e não achou nada, então deixamos passar. Pois lendo os jornais de 12 de fevereiro, encontrei seu obituário: havia falecido dia 19 de janeiro, aos 83 anos, vítima de infarto, em Pelotas.
Quem se criou nos anos 70 no Rio Grande do Sul e diz que não se lembra de Gigante está, por certo, desmemoriado. Figura ímpar, daquelas as quais não se esquece. Ah, por falar nisso, lembrei como chegamos ao seu nome: o jogador Cléo, do Inter. É que o loiro, belo e talentoso craque, recentemente vendido para o exterior, concedeu entrevista à Gigante, onde teria revelado relações com homens em seu passado - negaria isso após a publicação da entrevista - e, como cereja do bolo, posou nu para a matéria, com sua genitália tapada por uma escultura (foto abaixo). Um prato cheio para desforra dos gremistas, na época da torcida organizada Coligay, e mais um capítulo do preconceito que desde sempre infesta o futebol. Entretanto, essa é uma história à parte, que valeria, por si, uma crônica específica. Voltemos ao Gigante.
Nascido em Pelotas em 4 de setembro de 1938, foi aos 33 anos para o Rio de janeiro, onde residiu por duas décadas envolvido com arte em geral, cinema, teatro e televisão. Foi para atuar nessa mídia que voltou ao Sul, fixando-se em Porto Alegre e fazendo história no Jornal do Almoço, de grande audiência. Lá, também atuava outra lenda, o cronista e comunicador Paulo Sant'Ana - uma de minhas referências literárias na crônica -, falecido em 2017. Ícone gaúcho, foi também delegado de polícia (atuou em São Jerônimo) e, sobretudo, torcedor símbolo do Grêmio. Ainda é uma figura muita viva na memória recente da população. O fato é que Sant'Ana e Gigante - torcedor do Inter - ficaram muito amigos.
Assim, ninguém melhor para testemunhar sobre o tamanho de Gigante do que o grande Paulo Sant'Ana em coluna de 11 de setembro de 1979: "O Gigante plana na vida, sem ligar para nenhuma convenção. Como gostaria de ser assim e não tenho conseguido, invejo-o, o que sintetiza o que penso dele". Se o grande Sant'Ana falou, tá falado e assino embaixo. Fica o registro.