João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

As minhas canções de Elis Regina

 

Essa é uma crônica para veteranos e veteranas cinquentaços em diante ou para pessoas de todas as idades que apreciam ótimas canções. Com não falar de Elis Regina no dia que marca os 40 anos de sua morte? Uma artista ímpar da segunda metade do século XX no Brasil, quiçá a maior cantora da música popular brasileira - MPB. Essa portoalegrense tricolor da vila do IAPI era excelente, perfeita, pura magia. Essa será, logo, uma crônica recheada de adjetivos, pois os utilizarei em profusão.

 

Parece que ressaltar a data da morte de alguém é algo meio mórbido, não é mesmo? Ainda mais de uma mulher que se foi jovem, aos 36 anos. Mas como a morte faz parte da vida, assim como o nascimento, devemos comemorar o legado de uma pessoa nessas duas datas, sempre, penso eu. Falar o que de Elis Regina? Pra quem conhece, nada, pois já sabe. E pra quem não conheceu? Ora, falar das canções. Nessa crônica, escreverei sobre as "minhas" canções de Elis, ou seja, aquelas que mais me encantaram de seu repertório e entraram no meu repertório particular de canções MPB, pela ordem de preferência. Os que conhecem o trabalho da "Pimentinha" sabem que ela não era compositora, mas que escolhia a dedo ótimas canções de excelentes compositores populares e as transformava com sua inigualável interpretação, tornando-as verdadeiros brilhantes. Vamos a elas.

 

O BÊBADO E A EQUILIBRISTA - Se eu tivesse de assinalar uma canção de Elis Regina somente, seria essa. É um encontro de titãs da MPB: Elis, seu marido César Camargo Mariano (pianista e arranjador) e os compositores João Bosco & Aldir Blanc. Ah, o mineiro João Bosco, o maior violonista popular MPB do Brasil, na minha opinião. Mãos direita e esquerda perfeitas, exímias na condução do instrumento. Cantor de fartos recursos vocais, interpretação personalíssima, e compositor-mor. O carioca Aldir Blanc, recentemente vítima fatal de Covid-19, médico e grande letrista e cronista, um monstro das letras (Já escutaram O mestre-sala dos mares e De frente pro crime? Deveriam).  A canção inicia com a introdução num dueto mágico entre teclados e acordeão, uma passagem linda que também a encerra. Essa é aquela onde "caía a tarde em frente ao viaduto e um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos", falando também "da volta do irmão do [cartunista] Henfil", que era o sociólogo Betinho. Ei-la: O bêbado e a equiibrista

 

ROMARIA - Dentre as canções que todo o violeiro que desejasse ser respeitado tinha de saber na década de 1980, além de Vento Negro, Horizontes e Stairway to heaven, estava Romaria. "Não sabe Romaria? Não toca nada!" Uma composição mágica de Renato Teixeira com uma letra linda, um enorme sucesso que perdura: "Mas como eu não sei rezar, só queria mostrar, meu olhar, meu olhar, meu olhar...". Ao vivo: Romaria

 

O MESTRE-SALA DOS MARES - Em terceiro, outra de Bosco & Blanc, sobre o marinheiro gaúcho de Encruzilhada do Sul João Cândido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata. "Glória a todas as lutas inglórias, que através da nossa história, não esquecemos jamais Salve o navegante negro, que tem por monumento, as pedras pisadas do cais". Ao vivo: O mestre-sala dos mares

 

MARIA MARIA - O carioca mineiro de coração Milton Nascimento dispensa comentários. Artista de renome nacional e internacional, cantor e compositor genial. A letra é única e primorosa: "Maria, Maria É o som, é a cor, é o suor É uma dose mais forte e lenta De uma gente que ri quando deve chorar E não vive, apenas aguenta Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca Maria, Maria Mistura a dor e a alegria": Maria Maria

 

COMO NOSSOS PAIS - "Viver é melhor que sonhar e eu sei que o amor é uma coisa boa", diz a inspirada e filosófica letra do saudoso cearense Belchior, ícone para toda uma geração de brasileiros, como muito bem observam os cronistas gaúchos David Coimbra e Juremir Machado da Silva em seus textos. Belchior faleceu em abril de 2017 aqui perto da região Carbonífera, em Santa Cruz do Sul. "Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa". O grande momento da canção é: "Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo tudo tudo tudo que fizemos Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Esse clipe é do programa Fantástico e traz uma das grandes performances de Elis: Como nossos pais

 

ALÔ ALÔ MARCIANO - Canção dos paulistas Rita Lee & Roberto de Carvalho, o grande casal rock'n roll do Brasil. Buenas, quem não conhece as canções da Tia Rita? Essa composição foi gravada por Elis em 1980, perto do que seria o final de sua carreira. "Você não imagina a loucura O ser humano tá na maior fissura porque Tá cada vez mais down in the high society". De novo clipe bem legal do programa Fantástico: Alô alô marciano

 

APRENDENDO A JOGAR - Outra de 1980, composta pelo paulista Guilherme Arantes, autor de pérolas como Planeta água, Meu mundo e nada mais, Amanhã, Brincar de viver, Lindo balão azul e Deixa Chover. Arantes foi namorado de Elis. "Vivendo e aprendendo a jogar, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar". A canção possui um arranjo visceral e muito bem elaborado, pulsante e energético, ainda atual: Aprendendo a jogar

 

DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ - E finalizando as "minhas" canções de Elis, mais uma de João & Aldir - sim, A D O R O esses caras. Fala de um casal dançando: "...o teu perfume gardênia e não me perguntes mais (...) ...e a ponta de um torturante band-aid no calcanhar Eu hoje me embriagando de whisky com guaraná Ouvi tua voz murmurando: são dois pra lá, dois pra cá". Desfrutem-na: Dois pra lá, dois pra cá

 

Deixei de fora algumas canções memoráveis como Águas de março, Fascinação, Madalena, Casa no campo, Bala com bala e Me deixas louca, mas cada um aí que faça a sua lista de Elis. E era isso. Elis vive, como mostra a pichação acima, uma das muitas espalhadas por toda a Porto Alegre após seu falecimento. Ainda hoje ela é homenageada com estátua na Usina do Gasômetro, sua casa no IAPI ainda existe, possui um espaço com grande acervo na Casa de Cultura Mário Quintana e, até, nomeia uma torcida do Grêmio. 

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 19/01/2022
Alterado em 19/01/2022
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