João Adolfo Guerreiro
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Salve o ALMIRANTE Negro!

Os 111 anos do fato que é conhecido hoje como A Revolta da Chibata foram completos nesta segunda-feira. Em 22 de novembro de 1910, os marinheiros das modernas fragatas Minas Gerais e Bahia se amotinarem no Rio de Janeiro, em função dos maus tratos aos quais eram submetidos, dentre eles a humilhante e cruel chibata, isto é, uma punição que consistia, geralmente, de 25 golpes de chicote. O jornalista Edmar Morel publicou em 1959 o livro A Revolta da Chibata, onde recuperou a história da até então denominada A Revolta dos Marinheiros de 1910.

Foi liderada pelo gaúcho João Cândido Felisberto, nascido em Encruzilhada do Sul - RS, em 24 de junho de 1880. Quando da compra dos novos navios de guerra pela Armada do Brasil (antigo nome da Marinha) - equipados com 84 canhões cada -, os marujos (a absoluta maioria negros) e oficiais (todos brancos) foram enviados à Inglaterra para treinamento. Lá, os brasileiros puderam ver o tratamento respeitoso que seus colegas recebiam, bem diferente da disciplina de matiz escravocrata ainda em voga no Brasil.

Essa história é por demais conhecida, mas deve ser sempre relembrada para não cair no esquecimento. Resumindo tudo, o governo brasileiro fez um acordo com os revoltosos a fim de acabar o movimento, traindo-os posteriormente. Em 24 de dezembro do mesmo ano, foram presos. Dezoito líderes foram colocados por três dias em uma minúscula cela, com o chão repleto de cal, morrendo sufocados dezesseis deles. Cândido e outro marinheiro sobreviveram.

Em 1974 a dupla João Bosco & Aldir Blanc lançou o samba O mestre-sala dos mares, homenageando João Cândido, que ficou conhecido como O Almirante Negro por seus feitos durante a revolta. Entretanto, como estávamos no período da Ditadura Militar e havia a famigerada censura, a letra da canção teve de ser alterada a fim de apagar qualquer referência ao episódio e seu líder. Assim, palavras como "marinheiro", "fragatas" e "Almirante Negro" tiveram de ser alteradas para "feiticeiro", "regatas" e "Navegante Negro", ao passo que um trecho inteiro, "Rubras cascatas jorravam pelas costas dos negros pelas pontas das chibatas Inundando o coração do pessoal do porão Que a exemplo do marinheiro gritava: - Não", virou "Rubras cascatas jorravam das costas dos bantos entre cantos e chibatas Inundando o coração do pessoal do porão Que a exemplo do feiticeiro gritava então".

Abaixo deixo o link para um vídeo onde a letra original, censurada, está como legenda para a letra modificada, autorizada, na voz de Bosco. Além disso, outro para a magistral versão da também gaúcha Elis Regina para a canção, com interpretação inigualável ao vivo. Cândido, o Almirante Negro, morreu pobre, em 1969, vendendo peixes no cais do Rio de Janeiro - além de receber um pequena pensão do governo gaúcho, por iniciativa do então governador Leonel Brizola.

"Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o ALMIRANTE Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais"


O mestre-sala dos mares (gravação original de João Bosco) - https://www.youtube.com/watch?v=Ndh8MwbjeKI

O mestre-sala dos mares (versão ao vivo de Elis Regina)https://www.youtube.com/watch?v=lBOg8w9V-FA
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 22/11/2021
Alterado em 29/11/2021
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