Nas alturas
A ponte nova sobre o rio Guaíba é bem alta, propicia uma visão privilegiada de Porto Alegre para os que chegam de carro. Para os que chegam de avião é outra história, claro. Todavia, o amplo plano horizontal que se obtém sobre ela é único: a ponte antiga à direita, a Arena Grêmio à esquerda.
Uma pena que o Grêmio, visto lá de cima lá embaixo, não esteja por cima, mas por baixo. Faz parte, "a vida vem em ondas como um mar, num indo e vindo infinito", como cantou o Lulu Santos. Sobe e desce, sobe e desce, sobe e desce... Assim é com a gente: "José Newton já dizia, se subiu tem que descer" - Raul Seixas, mas "a vida pode ser maravilhosa" - Ivan Lins. Tudo depende do momento em que se está, pelo que se está passando, se pelo G6 ou pelo Z4 - o futebol é uma ótima metáfora pra vida.
O que não possui remédio é a morte, nela não há divisão de acesso, apenas rebaixamento eterno. Morreu, enterra - ou queima ou joga no mar. Amanhã é o Dia de Finados, dia em que a maioria das pessoas vai no cemitério "visitar" os parentes que já se foram no local onde estão seus despojos. Cada cultura entende a morte e lida com ela de maneira diversa. A nossa é essa, ir ao cemitério no Finados. E, também a maioria de nós crê, o céu azul é a morada da alma imortal deles. Logo, vamos lá, onde jaz o corpo, e oramos um Pai Nosso pelo espírito, que está nas alturas, acima das pontes e dos aviões.
E a gente passa pela vida como passamos pela ponte nova do Guaíba: começamos por baixo, subimos e, os que tem sorte - e que não ficam pelo caminho -, após atingir o ápice, descem como determina o José do Raul. Como uma onda no mar, antes de ir pro céu azul, pras imortais - e infinitas - alturas.