João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Capa Meu Diário Textos Áudios Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos
Pé-de-meia

Minhas meias me fazem pensar sobre o que é vencer na vida. Meu pai me disse uma vez que o homem que até os 40 anos ainda não fez o seu pé-de-meia, dificilmente o fará depois. O pai tem 85 anos e está aposentado desde os 50 e alguma coisa.

O homem que ainda não fez o seu pé-de-meia, o que é? Pé-rapado? Pé-de-chinelo? Não é à toa que tais expressões, ligadas aos nossos membros inferiores, que possibilitam o nosso deslocamento por esse planeta, expressam popularmente a condição socioeconômica dos homens. Os que fizeram o seu pé-de-meia podem usar calçados, os que não, andam descalços ou de chinelos. Uns tem o dinheiro que lhes possibilita estabilidade material, os outros ainda estão, descalços ou de chinelos, correndo atrás. Interessante que correr atrás calçado seria o ideal, mas o calçado é para aqueles que não precisam mais correr atrás.

Os que fizeram seu pé-de-meia são aqueles que adquiriram bens e guardaram dinheiro suficiente para uma vida confortável. Em tempos antigos, as pessoas guardavam suas economias em meias e as escondiam em local seguro, uma variante do dinheiro dentro do colchão. Atualmente, o pé-de-meia significa o que? Um negócio forte e rentável? Uma carreira profissional consolidada? Uma boa aposentadoria? Uma boa soma aplicada no banco? O fato é que aquele que fez o seu pé-de-meia venceu na vida, em termos socioeconômicos.

Venceu?

Olha, isso depende do ponto de vista. A velha questão: dinheiro traz ou não felicidade? É possível ser feliz sem o pé-de-meia? Dinheiro traz facilidades que possibilitam a felicidade? Quem tem dinheiro necessariamente não será feliz por isso, por andar calçado e com meias, ao passo que os que andam descalços sofrerão por congelar os pés no inverno, queimá-los no verão e espetá-los em algo durante o ano inteiro. Então podemos dizer que o pé-de-meia nos livra de dificuldades que nos farão infelizes, ou seja, nos livram de determinadas infelicidades. O pé-de-meia, logo, é uma coisa boa, embora não garanta, necessariamente, a felicidade. Talvez permita uma ilusão de felicidade, fugaz, mas é bom tê-lo, de qualquer forma.

O certo é que as meias andam mais caras em nosso tempo. O desemprego se torna crônico, atingindo duramente quem passou dos cinquenta, e aposentadoria, para a maioria, só aos 65 anos. Está difícil conseguir negócios estáveis e duradouros. E não se faz o pé-de-meia com meias furadas. Estamos em tempos inóspitos para a conquista do pé-de-meia. Não há espaço para todos, mesmo havendo um imenso vazio.

O que é vencer na vida? O que é ser feliz? O importante, penso, é uma saída coletiva, para evitar a derrota e a infelicidade socialmente construídas, isto é, procurar um modelo de sociedade mais justo e igualitário, onde haja meia para todos e andar descalço ou de chinelos seja uma opção de verão.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 27/10/2021
Alterado em 27/10/2021
Comentários