João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Detesto certas quintas-feiras

Ninguém abriria teu peito e mexeria no teu coração sem antes dar anestesia, pois você não resistiria. Sem ela, o ato de cura seria o ato de morte. Sem anestesia ninguém sobrevive à dor e ao sofrimento do mundo, quando inexoravelmente diante deles. Passamos a maior parte de nossa existência alheios ao "lado B" da vida, e é muito bom que seja assim. Quem aí ia querer morar num hospital, num manicômio ou numa penitenciária? Sem chance, né. Ninguém, claro.

Suportáveis o são as pequenas dores cotidianas, pois, mesmo incomodativas, sempre há alívio imediato para elas. Você está com muita dor de cabeça e isso te incomoda muito e te faz suscetível ao sofrimento do mundo, ou seja, enfraquece tuas defesas naturais ante o sofrimento que te cerca, anulando o anestésico. Maldita dor de cabeça! Aí tu já sabes o que fazer: passar um café. O aroma do pote aberto te agrada, o cheiro do café passado impregna o ambiente. Você o bebe e, em minutos, cadê a dor? Desapareceu.

Ah, o café, santo remédio. Aliás, qual remédio não é santo? Só quem já lidou com a dor e teve alívio sabe acerca de tal santidade. E é interessante tu perceberes que a tua dor poderia ser, justamente, abstinência da cafeína. Logo, café também vicia. Ora, se até chimarrão vicia, imagina o café?

Assim, nesse mundo, aquilo do que gostamos, quando falta, nos faz sofrer, sua ausência causa dor, só sua presença traz alívio. Então eis o grande problema dessa vida: o que se foi e jamais voltará. Nesse mundo a sina é primeiro ter e depois perder. Welcome to the jungle, baby. Viver é sobreviver, anestesiado.

Vai um cafezinho passado aí?
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 23/09/2021
Alterado em 23/09/2021
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