João Adolfo Guerreiro
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O tenente-coronel Alfeu e a Legalidade

Em agosto de 1961, o comandante do IIIº Exército, general Machado Lopes, quando comunicou ao ministro da Guerra que só cumpriria ordens amparadas pela Constituição de 1946 - logo após ter dito ao governador Leonel Brizola que apoiava a Legalidade -, determinou que o tenente-coronel Alfeu Alcântara Monteiro, da Aeronáutica, assumisse a Base Aérea de Canoas. Lá, junto com os sargentos, impediu que o Palácio Piratini fosse bombardeado, como mandava a ordem repassada pelo general Orlando Geisel, de Brasília.

Gaúcho de Itaqui, nascido em 31 de março de 1922, o tenente-coronel Alfeu era da ala legalista das Forças Armadas e cerrou fileiras de imediato com os colegas de farda que se opuseram à tentativa de golpe dos ministros militares do presidente Jânio Quadros - que renunciara -, que visavam impedir a posse do vice-presidente João Goulart. Os aviões já estavam carregados com as bombas quando os pneus foram esvaziados e metralhadoras foram colocadas na pista, impedindo que os oficiais-aviadores, comprometidos com os golpistas, pudessem decolar.

Após a posse de Goulart, em 7 de setembro de 1961, o tenente-coronel Alfeu permaneceu na Base. Todavia, hoje se sabe, 1961 foi a primeira parte de 1964, quando o golpe finalmente vinga. No dia 31 de março de 1964, aniversário de 42 anos de Alfeu, o poder é tomado. O presidente João Goulart não resiste e pede asilo no Uruguai. O tenente-coronel Alfeu e os demais legalistas de 1961 ficam na base, aguardando a inevitável troca de comando. O que eles não sabiam é que já estava alinhavada a prisão de todos, como vingança pela ação durante a Legalidade. Dentre os oficiais que chegaram no dia 4 de abril na Base, estavam o brigadeiro Nelson Lavanére Wanderley (futuro ministro de Aeronáutica) e o coronel-aviador Roberto Hipólito da Costa.

O que aconteceu por volta das 21 horas no comando da Base é controverso. A versão oficial é que o brigadeiro Wanderley deu voz de prisão ao tenente-coronel Alfeu, que não acatou e negou-se a entregar o comando, sacando seu revólver 32 e desferindo dois tiros, ao que entrou o coronel Costa e o alvejou com uma pistola 45. A versão de testemunhas não ouvidas no relatório oficial diz que o tenente-coronel recebeu voz de prisão, discutiu com o brigadeiro e foi alvejado pelas Costas com uma rajada de metralhadora pelo coronel, que se achava escondido numa sala anexa, com a porta entreaberta. Para quem quiser mais informações sobre o acontecido, deixo abaixo um link de uma matéria do Jornal Já, que dá bastante detalhes sobre o acontecido.

O fato é que o tenente-coronel Alfeu pagou com a vida em 1964 por ter impedido os aviões de decolarem em 1961 a fim de bombardearem o Piratini lotado de gente e cercado por cerca de cem mil pessoas, apoiadores da Legalidade. Alfeu ajudou a evitar um massacre e morreu por isso. Um herói legalista. Em março de 2019, em sentença para ação movida pelo Ministério Público Federal após denúncia do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, a 2ª Vara Federal de Canoas considerou o tenente-coronel Alfeu a primeira vítima da Ditadura Militar, por “motivações político-ideológicas decorrentes do regime militar instaurado”, determinando a retificação de seus registros militares e certidão de óbito.


BONES, Elmar. 1964: Coronel brizolista foi morto na sala de comando da Base Aérea de Canoas. Jornal Já, 4 abril 2020. Acessado em 31ago2021. Disponível em: https://www.jornalja.com.br/geral/1964-coronel-brizolista-foi-morto-na-sala-do-comando-da-base-aerea-de-canoas/
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 31/08/2021
Alterado em 31/08/2021
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