O homem lobo do homem
Há exatos 76 anos era lançada a bomba atômica "fat man" sobre Nagasaki, três dias depois de a "little boy" ter arrasado Hiroshima. Numa estimativa para cima, cerca de 250 mil pessoas perderam a vida em decorrência dos ataques e seus efeitos posteriores - metade delas no momento das explosões. O homem sendo o lobo do homem, como na famosa frase usada por Thomas Hobbes (1588-1651), citando o dramaturgo romano Plautus (254 a.C.-185 a.C.).
Um horror. Nunca, na história da vida humana, se matou tanta gente em tão pouco tempo. Mais gente em mais tempo, por outro lado, foram muitas vezes. O Holocausto, por exemplo, vitimou milhões durante a Segunda Guerra Mundial, sem falar no total de mortes durante o conflito. Morticínio e genocídio. Na verdade, creio que os lobos se estarreceriam com tamanha capacidade de extermínio e destruição sem motivação alimentar alguma.
No Brasil, por baixo, a Covid-19 matou mais do que o dobro das bombas atômicas sobre o Japão, ou seja, 560 mil óbitos notificados que, levando-se em conta a subnotificação, devem ser já quase 700 mil, na realidade. Muito disso pela teimosa resistência de se tomar medidas de isolamento social epidemiologicamente necessárias, devido a outro$ intere$$e$, maiores do que a vida humana. Assim, conforme o epidemiologista Pedro Hallal, da UFPel, “três a cada quatro mortes no Brasil pela covid-19 poderiam ter sido evitadas". Isso dá a dimensão da responsabilidade da ação humana envolvida na maior parte desse número assombroso de mortes.
O homem, vê-se, continua o ganancioso selvagem e genocida de sempre, mesmo 76 anos depois de ter utilizado a arma mais mortal por ele já concebida. De um jeito ou de outro, desde a antiguidade, o homem se mantém sendo lobo do homem. Seja bombardeando com "pequenos garotos" ou "homens gordos", num tempo, ou permitindo a circulação e aglomeração destes, noutro.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 09/08/2021
Alterado em 09/08/2021