A variante Delta e as aulas presenciais
Será que é o momento de se ter aulas presenciais, com o que estamos vendo a respeito da variante indiana - a Delta - pelo mundo, mesmo em países com vacinação adiantada? Ainda mais sabedores de que ela é a mais agressiva de todas até agora e já circula entre nós? Que a imunização das pessoas abaixo de 18 anos praticamente não existe? Não seria melhor aguardar o andamento da pandemia com a Delta em vez de arriscar?
A prefeitura de Butiá, numa demonstração de bom senso administrativo, cancelou as aulas presenciais até 7 de setembro. O Governo do Estado, nessa mesma batida, informou que não pretende liberar eventos em agosto, contrariando as expectativas, muito pelas incertezas quanto a variante Delta. No Japão, a variante é responsável por um novo surto de Covid-19, principalmente na cidade de Tóquio, onde são realizadas as Olimpíadas. Deve-se levar em conta o alerta do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos sobre a Delta: "A conclusão é de que se trata de uma cepa mais contagiosa, (...), mas que também tem maior probabilidade de vencer a barreira das vacinas. Ou seja, mesmo pessoas totalmente imunizadas podem ser infectadas e transmitir a covid-19. Mesmo assim, ressalta o CDC, os fármacos são eficientes para minimizar os riscos de agravamento da doença, hospitalizações e mortes" (1).
E vejam que os EUA vacinaram, até hoje, 50.3% da população com as duas doses, enquanto no Brasil estamos com 20.2%, no Rio Grande do Sul com 27.7% e na Região Carbonífera com 24.4% (2). Quanto às cidades da região, General Câmara apresenta o melhor índice, com 30.1%, e Minas do Leão o mais baixo, 17.7%. Nas demais, temos, em ordem decrescente: Arroio dos Ratos 29.1%, São Jerônimo 26.4%, Charqueadas 25.8%, Butiá 24.3%, Triunfo 21.8% e Barão do Trinfo 20.2%. E porque o índice do esquema vacinal completo é importante, no caso? Em primeiro lugar, no geral, por que a imunidade social só é atingida quando um mínimo de 70% da população já recebeu as duas doses; em segundo lugar por que, principalmente quanto a Delta, a segunda dose é essencial para a proteção, dada sua maior agressividade.
Para se ter uma ideia, o documento do CDC informa que "a variante Delta é muito mais contagiosa do que o vírus causador de Mers, Sars, Ebola, ou de resfriado comum, gripe sazonal e varíola, e é tão transmissível quanto a catapora" (3). Eis a dimensão do problema que preocupa as potências ao norte do Equador, na América, Europa e Ásia, a maioria com percentuais de vacinação superiores aos latino-americanos.
Com a acentuada queda observada na ocupação de leitos clínicos e de UTIs, de casos e de óbitos - fruto da vacinação -, devemos ter esperança concreta de dias melhores e não sermos alarmistas. Todavia, o fato novo da variante Delta, pelos motivos elencados acima, sugere prudência na flexibilização da circulação de pessoas e na retomada das aulas presenciais - mesmo sendo notória sua importância para o processo educativo. Vejo como imprudentes, inclusive, a intenção de se reduzir o distanciamento entre as classes em sala de aula de 1,5 para 1 metro, conforme o pedido de alguns segmentos educacionais.
A questão fica em aberto para administradores e gestores de Saúde municipais e estaduais, que são aqueles que decidem a respeito das medidas de combate à pandemia. Assim, repito a pergunta feita no primeiro parágrafo: Será que é o momento de se ter aulas presenciais, quando a imunização das pessoas abaixo de 18 anos praticamente não existe? Prevenir, no caso de risco para a vida humana, é o único remédio.
(1) -
ZERO Hora. Atenção sem alarmismo. Porto Alegre, 2 de agosto de 2021, editorial, p. 18.
(2) - Covid-19: 24,4% da população da região está com esquema vacinal completo.
Portal de Notícias. São Jerônimo, 03 ago 2021. Disponível em:
https://www.portaldenoticias.com.br/noticia/18343/covid-19-24-4-da-populacao-da-regiao-esta-com-esquema-vacinal-completo.html?fbclid=IwAR1Pb1SS72qVcl9BflBdpKNAZEx6qglWT927TEgM6aXrFDiko7EvE6U8nEc
(3) - LOPES, Rodrigo. A variante Delta é um banho de água fria.
Zero Hora, Porto Alegre, 31 de julho de 2021, Coluna Diários do Mundo, p. 19.