João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Capa Meu Diário Textos Áudios Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos
Vida (s) interrompida (s)

Hoje a vereadora e socióloga carioca Marielle Franco faria 42 anos. Foi assassinada aos 38 anos dia 14 de março de 2018, junto com seu motorista Anderson Gomes. Os assassinos já são conhecidos, mas os mandantes, passados três anos e quatro meses, ainda ignorados.

Na politicamente polarizada sociedade brasileira, o que era para ser interpretado como um crime contra a vida e contra a democracia, serviu para manifestações eleitorais de extrema-direita quando, no final de setembro de 2018, uma placa como a acima foi quebrada por dois deputados. Esse deboche à vida e a democracia por representantes de tais forças políticas foi prenúncio do que vemos nos dias atuais, por um lado, como minimização dos efeitos mortais da pandemia via o negacionismo fundamentalista antivacina (hoje revisto), anti distanciamento social e antimáscara e, por outro lado, pelas frequentes ameaças à democracia representativa e ao Estado Democrático de Direito, atacando instituições como o STF e o TSE - esse último mais recentemente. Inclusive, um dos deputados envolvidos na quebra depois acabaria preso e afastado do mandato justamente por ameaçar ministros do STF e defender o infame AI-5, ato ditatorial do regime de 1964.

Se o assassinato de Marielle tem algo a ver com a questão política, isso é algo a ser ainda elucidado. Todavia, simbolicamente, não há como não ver a quebra da placa como o ato emblemático de uma visão necropolítica e autoritária em gestação, antes de se instalar no poder. Há três anos isso era algo discutível; hoje, é uma obviedade. Assim, as vidas interrompidas de Marielle Franco e de Anderson Gomes revelaram então o signo da era da serpente a, com sua ideologia negacionista, permitir que outras vidas fossem interrompidas, às centenas de milhares.

A placa azul que nomeia a Rua Marielle Franco indica uma via oposta a esta, que lhe é tanto resistência quanto contraponto. Todos os fundamentalmente comprometidos com a vida e a democracia, dos mais variados matizes políticos e ideológicos, tem sinal verde nessa rua. É um caminho de igualdade, de liberdade e de luta por direitos humanos, sociais, civis e trabalhistas, coerente com as bandeiras levantadas pela vereadora em sua atividade política brutal e criminosamente interrompida.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 27/07/2021
Alterado em 27/07/2021
Comentários