O gigantesco falo voador espacial

Causou ENORME repercussão e gozação nas redes sociais o foguete do ricaço Jeff Bezos lançado para o bilionário dar um rolê espacial de 10 minutos esses dias com uns parças. "O motivo todo mundo já conhece", como disserem As Meninas: é só olhar a imagem dele acima, subindo aos céus numa ereção irresistível até para a gravidade terrestre. Piada pronta que o pessoal não perdoou, claro. E todo mundo riu pacas, pois rir é o melhor remédio, quase uma vacina no braço.

O mundo onde morre gente de fome e de peste se permite ao turismo espacial milionário ou bilionário - sei lá, nem imagino o que deve ter custado esse passeio espacial. Agora o lazer que a desigualdade e a concentração de renda extremas possibilitam toma os céus. Bezos é apenas um espelho gigante para algo ainda maior, espelho onde boa parte de nós pode se olhar e refletir sobre o próprio egoísmo nesse "mundo tão desigual", onde "tudo é tão desigual, ô ô ô ô ô", cantado por Gilberto Gil. No planeta onde o homem foi à Lua e Itaipu foi construída, ainda morrem de fome e de peste milhões de banguelas, pois "de um lado esse carnaval, de outro a fome total, ô ô ô ô ô". "Jesus não tem dentes no país dos banguelas", como cantou Lobão?

Qual o proveito do passeio para o avanço da ciência e o desenvolvimento da humanidade? Nenhum. Em termos de tecnologia, é mais do mesmo. É como se um de nós construísse um carro de Fórmula 1 na garagem de casa e fosse para Tarumã causar. Só que, no caso do foguete, ele ainda traz consigo a simbologia de ser um símbolo fálico, ou seja, o grande pênis voador do macho alfa bilionário da sociedade onde "quem pode, pode, quem não pode se sacode", como nos ensina o sábio provérbio popular - eis que os símbolos fálicos representam, sobretudo, o poder nas sociedades falocêntricas e patriarcais. E poder, na$ $ociedade$ capitali$ta$, é ter dinheiro. Tudo se relaciona: Poder & Poder Ltda, poder + poder = poder, poder sobre poder. Tudo po$$o, naquele que me fortalece. Inclusive tomar o$ céu$ como área de lazer.

O que passou despercebido é a pergunta: onde Bezos se inspirou para construir seu gigantesco falo voador espacial? Claro, por que, obviamente, vocês não imaginam que alguém constrói um foguete no formato de pênis ingenuamente, né? Pois eu digo, eis minha tese, que Bezos é um "trakker", isto é, um fã da série televisiva e cinematográfica Star Trek (Jornada nas Estrelas). A imagem do Capitão Kirk na foto acima, no episódio 7 da primeira temporada da série original, "Do que são feitas as meninas?", não deixa dúvidas: o que ele está segurando, senão um símbolo fálico? No caso, aquilo é um pedaço de rocha que ele pegou a fim de abater Ruk, o androide gigante, que o persegue naquela aventura. A propósito: a "pedra-pênis" de Kirk falha no episódio e ele acaba vencendo Ruk com a inteligência discursiva.

Bezos é um estadunidense de janeiro de 1964 e tem 57 anos, logo, certamente, é um trakker das antigas que deve ter assistido o referido episódio, eis que é um homem ligado a atividades profissionais tecnológicas (Amazon) e de lazer espaciais. Não esqueçamos que Jornada nas Estrelas é uma série icônica de ficção cientifica. Por outro lado, a semelhança da pedra-pênis de Kirk com o pênis voador espacial de Bezos é flagrante. Acho que isso não é por acaso.

Finalizando, recordo a famosa frase "Não existe almoço grátis", expressão popular inglesa utilizada pelo economista liberal monetarista Milton Friedman no título de um livro. A construção da riqueza econômica de um nação é fundamentalmente social, mesmo que seu usufruto seja individualizado. Logo, poderíamos dizer que não existe, também, turismo espacial grátis: quem o pagou foi a sociedade que construiu a riqueza econômica. Logo, há algo de errado com o modelo que permite que tal inversão de prioridades no mundo da fome e da peste, repleto de banguelas. E isso deveria saltar mais aos olhos do que os símbolos fálicos de Kirk e Bezos.