João Adolfo Guerreiro
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Medidas fatais

Volto a esse assunto, eis que essa tragédia familiar é um alerta para a sociedade. Dia 24 de junho o ex-deputado Beto Albuquerque perdeu o pai para a Covid-19, após este ter se contaminado ao cumprir uma solicitação de "prova de vida (que mata)" presencial do INSS. Em vídeo no dia 30, deputado desabafou: "Essa prova de vida é um absurdo. Inaceitável submeter idosos e aposentados de todas as idades a filas em bancos que estão trabalhando com redução de pessoal num país que até agora tem apenas 15% da população vacinada com duas doses. Ou seja: nós vivemos ainda o risco absurdo de contaminação e de alta circulação do vírus da covid". Dia 9 de julho, infelizmente, perdeu a mãe, pelo mesmo motivo - e ambos estavam imunizados com duas doses.

A senhora Vanir (foto acima, com Albuquerque) acompanhou o marido na "prova de vida (que mata)" e foi igualmente contaminada. Dia 7 de julho chegou a sair da UTI, mas, doença traiçoeira e imprevisível, seu quadro se agravou e ela faleceu. "Quero fazer um apelo ao Supremo [STF], ao Ministério Público Federal, a Defensoria Pública, ao Congresso Nacional, aos cidadãos e cidadãs que tem consciência das suas responsabilidades para que se cancele imediatamente essa chamada de prova de vida" - alertou Albuquerque. Esse caso nos remete para a necessária reflexão acerca das medidas tomadas pelos governos, em todas as suas esferas, durante a pandemia em curso. A propósito: quantas pessoas mais foram ou são vítimas de algo parecido, pelo Estado e pelo país?

Quem perde? As vítimas e seus parentes e amigos: "A dor é brutal. A famigerada prova de vida do INSS matou meu pai e minha mãe" - lamentou o ex-deputado. Quais serão os responsabilizados por essas mortes evitáveis decorrentes de medidas sabidamente inadequadas para o momento, que se revelaram fatais? Os governos passarão a adotar medidas conformes à epidemiologia, na defesa da vida humana? Quanto a primeira questão, o tempo dirá, através de ações análogas à CPI da Covid no Senado, tomadas em outros esferas e por outros poderes. Em relação à segunda, a resposta está nos noticiários...

Embora o número de óbitos e de ocupação de UTIs (graças à Deus e à Ciência) esteja baixando no Brasil e no Rio Grande do Sul - já resultado das vacinas -, o espectro maligno da agressiva variante delta indiana já roda o país e, muito provavelmente, também o Estado, tanto que as autoridades estão diminuindo o período para a segunda dose da Oxford AstraZeneca e da Pfizer, por dois motivos: primeiro, porque uma dose muito pouco garante contra a delta; segundo, como ela é muito transmissível e se espalha rapidamente, o aceleramento da vacinação busca proteger os grupos de risco antes da mesma tornar-se dominante, evitando também que ela encontre facilidade em se espalhar entre a população. Uma corrida para fugir da variante, literalmente. Para se ter uma ideia do tamanho da preocupação, Israel está vacinando em terceira dose as pessoas dos grupos de risco a fim de protegê-las da variante delta.

Então, seria de se esperar medidas de isolamento social preventivas a fim de ajudar as vacinas a cumprirem seu papel contra a indiana, não é mesmo? Só que não. Na final da "Cepa" América, liberam público na partida entre Brasil e Argentina no Maracanã. Por sorte, a variante que a copa trouxe consigo como "legado" para o país (até agora) é a colombiana (B.1.216), considerada pouco agressiva - o produto nacional é (oh dor) melhor. Ainda falando em futebol, a prefeitura de Porto Alegre quer iniciar a colocar pessoas nos estádios Beira Rio e Arena Grêmio já para o final desse mês, em carácter experimental. Imagina?

E já que estamos na "Cidade Sorriso", não esqueçamos que o presidente, sempre dando mau exemplo no quesito cuidados, veio à Porto Alegre fazer aglomeração sem máscara em uma motociata. A nota bizarra foi o prefeito da cidade dizer que o presidente e seus apoiadores não seriam multados por estarem descumprindo a obrigatoriedade do uso de máscara! Note-se que o Rio Grande do Sul apresenta, hoje, apenas 20% da população vacinada em segunda dose (o necessário para a imunidade rebanho seria, no mínimo, 70%) e 49% em primeira. Ou seja, vivemos como se aqui fosse o Reino Unido (52% - 69%) ou Israel (57% - 63%). Só que não - pela segunda vez.

Continuando na capital gaúcha, vimos que a própria Secretaria Municipal de Saúde divulgou boletim epidemiológico atribuindo à reabertura das escolas surtos de Covid-19 na cidade. E o que vemos nos jornais, hoje? A rede privada municipal pedindo para diminuir o distanciamento nas salas de aula de 1,5 metro para 1 metro! No Estado a situação não é diferente, pois o governador chegou a implodir o Distanciamento Social Controlado a fim de retomar as aulas presenciais. E isso segue pelas cidades, brincando com o risco de vida das pessoas, no caso, professoras, alunos, pais e familiares de todos esses.

Em resumo, pergunto: é mesmo indispensável nesse momento que escolas, estádios e templos religiosos estejam abertos? Essas medidas atendem ao interesse público durante essa crise sanitária sem precedentes em um século? Por isso o caso da família Albuquerque, por todos os fatores nele envolvidos, é relevante para a reflexão social mais ampla acerca das medidas que vem sendo tomadas pelos governos nesta pandemia. Ao mesmo tempo que expressamos ao ex-deputado Beto Albuquerque nosso pesar, fazemos coro ao seu apelo, ampliando-o, para que outras famílias não sofram o mesmo das mais diversas formas.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 13/07/2021
Alterado em 13/07/2021
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