João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Uma segunda-feira no inverno gaúcho

Bom dia. Levantar às cinco da manhã, olhar os noticiários, ouvir o galo cantar, o gato miar, tomar café com leite fumegante e comer pão com manteiga. Mais uma segunda-feira no inverno gaúcho. Viver no Rio Grande do Sul exige aprender a lidar com o frio, pois ele é parte do clima daqui, goste-se ou não.

O frio não quer saber o que tu achas dele, ele chega e pronto. Existia antes do gaúcho e do ser humano, logo, ele tem todo o direito, como dizia aquele jingle do Anápio prefeito. Ele rengueia os cuscos e encaranga os desprotegidos. Não se adapta, exige adaptação. Tá alheio ao que falam dele nas redes sociais, é muito senhor de si para se importar com coisas humanas como popularidade ou impopularidade.

Exige das pessoas uma ética, uma estética e uma gastronomia: solidariedade, roupas pesadas e bebidas quentes. O frio molda os gaúchos, os tempera. Comer sorvete o ano inteiro é pra brasileiro do Norte, não do extremo Sul. Banho de mar o ano inteiro é privilégio pra nordestino, não pra gaúcho. No máximo dos máximos dá pra dar uma pescada na Praia da Guarita, sobre as pedras do Morro do Meio. O melhor é esquentar uma água pro chimarrão no fogão à lenha ou beber chocolate quente em Gramado, até porque o turismo top do RS é a Serra Gaúcha no inverno.

O frio nos molda, nos tempera e nos define, portanto. O gaúcho, para os demais brasileiros, é, essencialmente, o homem que veio do frio. Tá bem mais perto da Patagônia do que do Amazonas, quase o dobro da distância. O gaúcho é, antes de tudo, um forte. Pelo frio. O nordestino, como disse Cunha em Os Sertões, também o é, só que por motivo contrário, ou seja, pelo calor e pela seca.

"Verdes mares bravios de minha terra natal", abre Alencar seu clássico Iracema. Veríssimo devia ter iniciado O Tempo e o Vento com "verdes mares bravios e gelados de minha terra natal", ao escrever sobre Ana Terra e sua descendência. Garibaldi tomou Laguna nos lanchões durante o inverno, encontrando a primavera e o verão nos braços de Anita. O Exército Imperial devia estar nas barracas, esquentando-se debaixo das cobertas. A Batalha do Seival foi no início de setembro, os imperiais deviam estar encarangados e resfriados, ainda.

O Rio Grande é o pé do Brasil, pisando na geada. Bota o pala que hoje é segunda-feira de inverno. A la pucha, tchê! E te prepara pro Minuano!
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 05/07/2021
Alterado em 05/07/2021
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