Aulas presenciais em Charqueadas !?!?
Ontem mesmo abordei aqui o caso do pai do ex-deputado Beto Albuquerque, vítima fatal de Covid-19 após ir fazer "prova de vida" no INSS, expressando que aquela tragédia familiar nos revela o modo como determinadas medidas colocam a vida das pessoas em risco e demonstra porque o país é um dos epicentros da pandemia, pois, mesmo durante uma terceira onda, na chegada de um inverno rigoroso, com a perigosa e contagiosa variante delta chegando no país e com a vacinação ainda insuficiente para se atingir a imunidade coletiva, continuamos lidando com situações temerárias.
Isso se aplica agora no caso da retomada das aulas presenciais na cidade de Charqueadas já para amanhã, como previsto no Decreto Nº 3838 de 28/06.2021 da prefeitura atendendo a Recomendação Nº 12/2021 da Procuradoria Regional da Educação de Porto Alegre do Ministério Público RS. Não é o caso de se avaliar os dois documentos agora, quando tudo é muito repentino à população e as melancias recém estão se acomodando na carroça, mas sim de se perguntar se esse é o momento de retomar, com segurança à saúde e à vida de professores, funcionários de escola, alunos, pais e familiares, as aulas presenciais no município? Pelo quadro que descrevi no primeiro parágrafo desse texto, entendo que não.
Se as mortes e a internações em UTIs apresentam queda no RS, mesmo estando num patamar elevado, é devido ao efeito da vacinação em idosos e grupos de risco por comorbidades, eis que esses representavam 80% dos óbitos registrados no Estado. Por outro lado, o patamar ainda elevado indica que nunca estivemos com tanto espalhamento do vírus como agora, que afeta em grande percentual sobretudo as faixas etárias da população ainda não vacinadas ou imunizadas apenas em primeira dose. Ou seja, nunca estivemos com tanta chance de sermos contaminados como agora, como disse o microbiologista Átila Iamarino em live no You Tube no dia 22 de junho.
Isso pode ser verificado a olho nu a partir de fatos constatados na atualidade. Na Copa América infelizmente em curso no Brasil, mesmo com todos os cuidados e com a "bolha" de proteção criada, já tivemos 145 casos de Covid-19. Aqui mesmo na região, na prefeitura de Arroio dos Ratos, ocorreu um surto de contaminação que causou a morte do secretário de Obras, de 54 anos. Tivemos há pouco a situação semelhante vivida pelo Grêmio, com vários jogadores do seu elenco afastados, inclusive o treinador. Assim, uma certeza fica: onde há aglomeração, mesmo que se observe todos os protocolos, haverá espalhamento do coronavírus, contágio e acometimento por Covid-19 com risco à saúde e à vida das pessoas. Segurança total na pandemia, fora do tripé distanciamento social, máscara e vacina, não existe. Fato.
A importância da educação pública de qualidade, universal e presencial, é inconteste, ninguém pode negar isso e o direito das crianças a dela usufruir. Mas e o direito à vida, como fica? O risco é óbvio. Quando uma pessoa morre, ela perde tudo: o que foi, o que é e o que seria. Se der problema o retorno das aulas presenciais em Charqueadas, as vítimas nós saberemos quais serão: professores, alunos, funcionários de escola, pais e familiares. Esses sofrerão a parte da perda. E de quem será a responsabilidade, se tal ocorrer?
Aliás, quem assumirá a responsabilidade de garantir que as escolas municipais se encontram sanitariamente aptas a receber aulas presenciais com segurança nesse momento excepcional? Vi hoje, numa rede social, diretora de escola da rede criticar publicamente em postagem o retorno. E as professoras e funcionárias dos grupos de risco que ainda não tenham sua imunização completa com a segunda dose, como ficam? Terão de ir para o sacrifício, mesmo que isso signifique a morte? A propósito, que garantia tem as profissionais da educação que receberam apenas a primeira dose? Falo delas porque obrigatoriamente terão de estar presentes, ao passo que os pais poderão escolher se enviarão seus filhos ou não. Eu, nesse momento, não enviaria, caso tivesse filho em idade escolar.
Era isso. Aguardemos os acontecimentos, torcendo para que o melhor a fim de se garantir a vida das pessoas prevaleça no final.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 30/06/2021
Alterado em 30/06/2021