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Não é apenas um número. Não é nome de filme de cachorro. Centena de jogo do bicho. É gente. Gente que se foi e que não precisava ter ido, coisa evitável, diacho. Na minha cidade. Digo minha porque sou dela, nasci aqui, criei-me aqui, vivo aqui. Nasci e fui criança na Colônia, adolescente e jovem na Cohab e sou homem feito e maduro no Centro. Esse número tem muitas ligações com minha vida, com todas essas fases.
Sento numa poltrona reclinável que um dígito-gente desses, ser muito legal, vendeu-me. Por vezes tomava café, conversava e lia jornal com outro. Conversava no serviço com um deles, aliás, com dois. Assistia um tocando violão sobre os palcos. Era "facefriend" e vizinho de outros. Em suma, conheci e interagi, ao longo de minha vida, dezenas dessas centenas de corações pulsantes charqueadenses que, agora, jazem imóveis no Júlio Rosa. O cemitério da nossa cidade é a última morada de grande parte de nossos afetos. Entristece ver, nele, gente que se foi antes do tempo. O fato é que, se a Covid-19 não estivesse por aqui, eles não estariam lá, Vidas interrompidas, ciclo vital abreviado. E, insisto: evitável.
Tem mais mortes evitáveis? Sim. Tem diabético que não se cuida, tem gente que fuma e bebe demais e por aí afora. Entretanto, são escolhas individuais. A pandemia é um problema social onde as decisões coletivas sociais e político-administrativas são determinantes para a "sorte' dos indivíduos. Então, novamente insisto: EVITÁVEIS.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 28/06/2021
Alterado em 28/06/2021