Nega Diaba: 20 anos
Vocês sabiam que somente em 1996 foi eleita pela primeira vez uma mulher negra para o cargo de vereadora em Porto Alegre? Sim, isso mesmo, entre 1773 e 1996, transcorridos 233 anos desde a criação do Legislativo Municipal da capital, Teresa Franco, a Nega Diaba, foi a primeira afrodescendente a se eleger para ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores, após somar 6.423 votos pelo PTB, partido então liderado pelo radialista Sérgio Zambiasi.
Aliás, a carreira pública de Teresa iniciou pelas mãos de Zambiasi, via seu programa na Rádio Farroupilha, onde trabalhou como recepcionista. Nascida em Rio Pardo em 14 de março de 1938, foi registrada apenas pela mãe, Antonieta da Rosa Franco. Aos 5 anos foi doada pela genitora a uma família de alemães e, aos 12, foi para Porto Alegre reencontrar seus familiares. Na cidade, passou a viver sozinha, nas ruas, onde, após inicialmente viver de pequenos furtos, trabalhou em boates como prostituta, dançarina e, até, traficante.
Posteriormente tornou-se uma liderança comunitária nos bairros onde residiu - como Cruzeiro e Conceição - e criou seus seis filhos. Já morando no Alto Teresópolis, passou a organizar bailes para sobreviver, o que incomodava os vizinhos devido ao barulho. Esses, ao reclamarem ao radialista Zambiasi, acabaram gerando o encontro entre ambos, pois ela foi ao programa responder as queixas e acabou empregada na rádio. Lá chegou já usando o apelido de Nega Diaba, pelo qual era popularmente conhecida.
A origem da alcunha possui duas versões registradas: a primeira, do jornalista, escritor e documentarista Renato Dornelles, dá conta de que ela furtou a carteira de um homem, sendo perseguida por este e por um policial, que não conseguiram alcançá-la e teriam dito "essa negra aí é o diabo"; a segunda, está no Memorial da Câmara de Porto Alegre e informa que um dono de bar teria dito "essa negra é o próprio diabo", por ela ter defendido uma amiga da rua.
Ao finalizar seu mandado, discursou no dia 15 de dezembro de 2000: "Aqui, há quatro anos, subi nesta tribuna, desmaiei, emocionada porque nunca tinha estado aqui e, hoje, subo na tribuna, canto, com a maior simplicidade. Aqui, aprendi, cada Vereador foi meu ABC, porque com cada um deles aprendi uma letra, quando não sabia o que fazer. (...) Agradeço muito a Deus por, no meio de tantas negras professoras, Ele foi lá no fundo poço buscar essa Negra para fazer dela uma Vereadora. Quero agradecer, também, ao meu Anjo de Guarda que foi o Deputado, como todo mundo sabe, Sérgio Zambiasi e quero agradecer aos meus eleitores, e quero dizer que a Negra não vai parar aqui".
Nega Diaba faleceu em 20 de junho de 2001, domingo passado fez 20 anos. Hoje nomeia o Espaço T Cultural da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Deixou sua marca pioneira, seu legado e entrou para a história.
Fontes:
CÂMARA MUNICIPAL de Porto Alegre. Memorial: Teresa Franco. 2016. Disponível em
Teresa Franco – Memorial (camarapoa.rs.gov.br) Acessado em 22 jun 2021
MARQUES, Andressa. 24 anos depois, Nega Diaba ainda é a única mulher negra eleita para a Câmara de Porto Alegre. Sul21, 2020. Disponível em
https://sul21.com.br/ultimas-noticias-politica-eleicoes-2020/2020/11/24-anos-depois-nega-diaba-ainda-e-a-unica-mulher-negra-eleita-para-a-camara-de-porto-alegre/ Acessado em 22 jun 2021
RAMOS, Juliana Barcelos. A redemocratização abriu caminho? Presença feminina no sistema político rio-grandense e diferentes trajetórias na Câmara Municipal de Porto Alegre (1982 – 2016). Universidade Federal do RS, 2018. Disponível em
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/189093/001085546.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acessado em 22 jun 2021