João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Demos a mão...

... e já querem o braço pra fazer churrasco. É exatamente esse o caso da realização da Copa América no Brasil, após as desistências da Colômbia por motivos políticos da Argentina pela questão sanitária. Afinal, somos a Pátria de Chuteiras, que não poderia se negar ao futebol da mesma forma como nega a pandemia. Gosto muito de futebol, assisti em Porto Alegre os jogos da Copa América 2019 na Arena Grêmio e foi um prazer, uma ótima experiência, mas, agora, não é um momento adequado e seguro, por isso os justificáveis memes de "Cepa América" e "Cova América" de "mata-mata" nas redes sociais

Insisto em repetir duas frases emblemáticas quando escrevo sobre futebol: "O futebol é a coisa mais importante das menos importantes" - Milton Neves; "O futebol é negócio para empresários e dirigentes, profissão para jogadores e paixão para torcedores" - Juremir Machado da Silva. Tendo-as em conta, o que justifica ocorrer futebol num país que, dependendo da análise que se faça, é o segundo ou o quarto em número de óbitos por Covid-19 no mundo? Nada, a não ser a grana com que ele ajuda a azeitar as engrenagens da roda da economia. Como função social essencial, inútil. Fatos.

Assim, não era para ter futebol no Brasil enquanto não baixássemos a níveis mínimos o espalhamento do coronavírus em nosso país. Era o lógico e o científico a ser feito. Mas, no ilógico país do fundamentalismo liberal, com as tais "flexibilizações", permitiu-se a realização de jogos sem torcida. Ou seja, deram uma mão para o esporte bretão, preferência nacional. Pelo menos as pessoas poderiam olhar os jogos pela TV, em casa, como redução de danos emocionais: o futebol virtual como terapia social em tempos de pandemia. Os clubes e jogadores correriam os riscos. Atividade epidemiologicamente segura não é, senão não teríamos esses surtos em times - como o que o Grêmio atravessa - mesmo com todos os cuidados que o futebol de ponta toma. O fato inconteste, assim provado, é: se aglomera, contamina. E o custo é morte de pessoas e colapso hospitalar.

Demos a mão e agora querem o braço para fazer churrasco da gente, pois quem queima no fogo pandêmico da morte com os absurdos sanitários cometidos por nossa elite dirigente é o povão. Trarão, numa decisão rápida como um contra-ataque mortal, dez seleções nacionais pra cá a fim de realizar a Copa América, mesmo com a terceira onda chegando ao Brasil e com as novas variantes mundiais do coronavírus rondando um dos países mais castigados pela pandemia, mau exemplo internacional de como combatê-la - e, com essa inadequada e infeliz decisão, mau exemplo recalcitrante. Se não tivessem dado a mão para o futebol antes, não estaríamos correndo mais esse risco injustificável agora. Com certeza, daqui uns dias, pedirão torcida nos estádios, mesmo com a pandemia em andamento, pois não houve, não há e não haverá limites para o negacionismo fundamentalista e - não há como evitar a palavra - genocida.

Ainda bem que o governo estadual é diferente do federal e foi contra a realização de jogos desta no Rio Grande do Sul. A prefeitura de Porto Alegre, ideologicamente "federalista", chegou a se assanhar para ter jogos aqui, mas ficou com dor de ouvido ante a gritaria contrária e se calou. Queriam até vacinar os jogadores de futebol para tal. Supremo absurdo: com todo o respeito aos jogadores profissionais e sua valia, existem grupos sociais de maior idade e risco e profissões essenciais à sociedade a terem a primazia da imunização. Futebol é lazer, entretenimento, não prioridade.

É tudo pela grana - que é importante, mas não mais que a vida humana -, o mesmo motivo que levou à retomada das aulas nas escolas e à liberação de cultos religiosos, por exemplo. Tudo isso tem o peso simbólico de combater as medidas de distanciamento social necessárias ao controle da pandemia até as vacinas serem aplicadas em percentual suficiente para a imunidade rebanho, por pressão do poder econômico a fim de justificar flexibilizações de protocolo cada vez mais abrangentes e sem amparo epidemiológico. Como a vida humana não é prioridade, tudo o que poderia ficar parado e ser feito em casa até que a tempestade passasse tem de funcionar presencialmente, para que a bola continue rolando no gramado do egoísmo materialista.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 04/06/2021
Alterado em 05/06/2021
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