João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Em busca da edição preferida

Reginaldo Sant'Anna foi um economista brasileiro falecido em 1999 e, em vida, especializou-se em traduções de alta complexidade técnica, como a de O Capital, de Karl Marx, direto dos originais em alemão - também dominava o inglês, o francês e o russo. O Capital não é apenas um livro, mas quatro, e, dependendo da edição, soma até nove volumes. Sant'Anna foi o primeiro a verter para o português brasileiro essa obra em sua totalidade, nos anos 1960, para a editora Civilização Brasileira.

Eu curtia a edição que via no início da década de 1990 numa livraria que ficava bem na entrada da Unisinos, no Centro 1. Todo dia que chegava na universidade a namorava, mas era um durangão na época, sem chances de comprar. Fizemos uma rifa para arrumar grana para o diretório acadêmico de Ciências Sociais e adquirimos os dois volumes do Livro I: O processo de produção do capital, como primeiro prêmio. O sorteado foi um dirigente do Sindimetal de Charqueadas, para quem eu vendera uns números da rifa - no ano seguinte eu compraria os volumes dele.

Era uma edição da Bertrand Brasil de 1989 - todos os quatro livros - capa preta com letras brancas e laranjas, muito bonita, arte gráfica de Avelino Guedes. A tradução era a de Sant'Anna. Fiquei satisfeito em ter o Livro I e sosseguei, achei que não valia a pena correr atrás do resto, até porque não havia capital suficiente em minha conta bancária e economia política não era a minha área de estudo. O tempo passou e, em condição financeira melhor, senti vontade de comprar os outros três livros daquela edição, mas não encontrei mais, a não ser por um dos volumes do Livro III - O processo global de produção capitalista, e, mesmo assim, apenas de uma edição "gêmea" daquela: da Difel, de 1983. E, principalmente, não mais consegui o Livro IV - As teorias da mais-valia. A gente encontra ele em PDF na internet, mas, para quem curte livro, não é a mesma coisa que um volume físico, ainda mais como o da Bertrand. Tive que me contentar com lançamentos posteriores (recomendo, atualmente, os da Editora Boitempo - tradução de Rubens Enderle - que, todavia, não publicou o Livro IV).

Quando vou aos sebos ou lojas especializadas, nunca encontro ou, ao falar que procuro o Livro IV: Teorias da mais-valia, eles possuem apenas aquelas edições pequenas da Global, de capa azul, geralmente o número 5 da Coleção Bases, que vem somente com o capítulo sobre os Fisiocratas. Na internet é sempre apenas um volume que há - foi como consegui o Livro III da Difel -, e nunca o IV, pois sempre aparece como "esgotado" ou "vendido".

Esse Livro IV seria aquele em que Marx publicaria toda sua análise sobre a teoria econômica precedente, um resenhão de economia política. Entretanto, ele morreu (1883) e lançou em vida apenas o Livro I (1867), ficando a cargo de seu amigo e parceiro político-intelectual Friedrich Engels editar e lançar o Livro II - O processo de circulação do capital (1885) e o III (1894), a partir dos manuscritos deixados pelo autor. Engels morreu (1895) antes de lançar o Livro IV, mas em 1905 Karl Kautsky, filósofo e jornalista austríaco, de posse dos cadernos de Marx, o fez.

Estava para dar uma procurada mais forte na edição da Bertrand no início do ano passado, mas daí veio a pandemia e resolvi deixar tudo em stand by, para um dia depois da chuva. E vou atrás quando o tempo melhorar, pois, agora, acho que vale a pena.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 21/05/2021
Alterado em 21/05/2021
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