João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Paulo Gustavo... Quem somos esse cara?

Como todos, acompanhei pelas redes sociais a evolução da doença do ator Paulo Gustavo. De início, vendo as primeiras postagens, em março, achei que era um integrante do BBB ou coisa assim. Depois, de tanto ver posts pedindo e torcendo pela sua recuperação, pensei comigo: quem é esse cara? E fui pesquisar...

Aí eu vi que era o ator que fazia a dona Hermínia, nos filmes do cinema. Não ligara o nome à personagem, até porque nunca assisti um de seus filmes. Do cinema nacional, esse tipo de comédia não é a minha praia. Não é que eu ache ruim, sei de bons comediantes como Leandro Hassum e Ingrid Guimarães fazendo também filmes que dão muita bilheteria, mas esse tipo específico de comédia não me atrai quando se trata de assistir em cinema, deslocando-se para a capital e pagando ingresso. Todavia, percebi, pela repercussão nas redes, que se tratava de um ator realmente muito querido pelas pessoas.

Sua doença e morte percorreu todo o calvário midiático a que artistas famosos são submetidos pela indústria cultural na busca da notícia como entretenimento, visando pontos de ibope, venda em banca ou, atualmente, likes. Até mataram o ator antes mesmo dele morrer, na busca por um mórbido e insensível furo jornalístico. Pobre família, só imagino. E o que fica de tudo isso, de mais essa morte evitável por Covid-19 no Brasil se tivéssemos, lá atrás, apurado com os contratos para compra de vacinas e endossado nacionalmente uma política de distanciamento social?

Em primeiro lugar, a percepção de que parcela do povo brasileiro, acostumado às chagas oriundas da desigualdade social e da pobreza dela decorrente, sendo-lhes indiferentes e "naturais', comove-se somente quando há empatia com determinada pessoa, por ela ser próxima ou pública, já a dor dos distantes é invisível, a ela se é insensível. Encontramos, por exemplo, pessoas que minimizam os óbitos da pandemia a postar seu pesar pela morte de Paulo Gustavo, por apreciarem seu trabalho artístico. Em segundo lugar, que até aqui determinadas visões de mundo, calcadas em moralismo e preconceito, exprimem publicamente suas barbaridades contra outros seres humanos, mesmo observando-os em agonia, sem consideração ou piedade alguma.

Como o comediante era homossexual, possuía família e filhos adotados, vimos até um religioso zombar de sua enfermidade, como se ela fosse castigo divino por sua orientação sexual. É triste ver algumas expressões de um cristianismo torto, deturpado, deformado e corrompido, que ignora o amor incondicional que devemos ao próximo. Cruzincredo e deusnoslivre! Se esquecem do que leram na Bíblia, que Jesus, quando era pregado na cruz pelos soldados romanos, bradou para que o Pai os perdoasse, pois ignoravam a gravidade do que faziam? Jesus pediu pelos soldados romanos que o martirizavam! Por isso o Cristo elevou o nível do amor a ser praticado quando disse que não era mais amar o próximo como a si mesmo, mas sim amar como Ele nos amou. Tá lá, escrito.

O caso do ator Paulo Gustavo nos permite fazer essas reflexões. Quando penso no seu óbito, penso também num colega de 38 anos que igualmente morreu de Covid-19, penso numa conhecida que contraiu a doença cuidando do irmão - ambos faleceram -, deixando sua mãe e os filhos adotivos. Cada número das estatísticas oficiais é o registro de uma tragédia pessoal e familiar, de dor e sofrimento. E penso nas pessoas que vi hoje de manhã no telejornal, aglomerando-se em filas em Porto Alegre, buscando a segunda da dose da CoronaVac que está atrasada - muitos saíram de lá sem a receber, ainda. Imagina, deixaram faltar segunda dose para as pessoas, cometeram tamanha imprevidência de gestão numa situação dessas, de risco de vida? Enviar professores e alunos para sala de aula num período de pandemia ainda em altos níveis de espalhamento?

A pandemia tornou superlativas nossas mazelas, não há mais como ignorá-las, pois, agora, a todos atingem, não apenas o pessoal do andar de baixo, que morre imperceptível à cegueira e surdez social. A questão não é mais se perguntar "Quem é Paulo Gustavo?", mas sim ver que somos todos Paulo Gustavo, independente de nossa classificação na estratificação social. Todos seres humanos buscando sua felicidade e liberdade num mundo, por nós mesmos, tornado inóspito. Sua dor é a nossa dor - a dor de todos - e a repercussão de seu lamentável óbito nos mostra isso e nos revela. Deus o tenha e nos ilumine.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 05/05/2021
Alterado em 05/05/2021
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