João Adolfo Guerreiro
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Tudo contra

Ainda sobre o retorno das aulas presenciais no Rio Grande do Sul, pois é difícil não escrever sobre uma medida de tamanho impacto literal sobre a vida das pessoas. E, parece-me, tudo vai contra a pertinência dessa decisão política para o momento.

Estamos nos aproximando no inverno, período sazonal onde se verifica maior quantidade de doenças respiratórias em nosso Estado. Em 2020, foi nele que registramos o número mais alto de casos e óbitos da pandemia, até chegarmos ao morticínio de março/abril. Então não é muito arriscado abrir exatamente nesse período as aulas presenciais, levando-se em conta que professores e alunos dividirão por várias horas, cinco dias por semana, um espaço fechado, justamente onde o vírus se espalha com maior facilidade? Com a imunização da sociedade ainda incipiente e sem vacinação dos professores?

O Brasil chegou a 400 mil óbitos oficiais. Na verdade, ano passado estudos epidemiológicos - sobre os quais já me referi aqui no Portal - indicaram uma subnotificação de mortes por Covid-19 em torno de 40%. Logo, levando-se isso em conta, teríamos aproximadamente 550 mil óbitos reais e cerca de 55 milhões de infectados no Brasil, visto as mortes representarem, em média, 1% dos casos, pois essa é, com poucas variações, a sua taxa de letalidade real - também já escrevi acerca disso aqui. Mas fiquemos com os números oficiais, 400 mil: até 7 de janeiro desse ano, eram 200 mil, ou seja, a metade das vítimas fatais deram-se nos últimos quatro meses, onde a "variante de Manaus" do vírus, mais agressiva, tornou-se predominante em todo o país. O Rio Grande de Sul, atualmente o terceiro estado em casos registrados, seguiu a tendência nacional da pandemia. Embora os números tenham baixado, ainda são altos e não garantem nada quanto ao futuro, pois permanecem em níveis acima dos verificados em fevereiro, quando da adoção da bandeiras preta em todo o Estado - "a proporção de óbitos permanece três vezes superior ao padrão anterior à atual onda", nos informa o jornal ZH de quarta-feira. Assim, não é desnecessariamente arriscado retomar as aulas presenciais nessa conjuntura?

A mudança repentina da cor da bandeira de preta para vermelha foi uma decisão política, não técnica, tomada sem consulta ao comitê científico que colaborou por um ano com o governo estadual. Inclusive, foi moeda de troca na Assembleia Legislativa durante a votação que eliminou o plebiscito para as privatizações da Corsan e do Banrisul. Algumas bancadas só votaram a favor do governo quando ele anunciou a retomada das aulas, mediante a troca da bandeira. O infectologista Alexandre Zavascki ressaltou tal carácter político e sem respaldo científico, falando a ZH dia 28: "Sob nenhum indicador que se olhe o Estado está melhor do que antes da adoção da bandeira preta. A única diferença é que, antes, estávamos com a pandemia em ascensão, e, agora, estamos com descenso, mas em um nível muito alto, ainda. (...) Nenhuma organização internacional considera seguro retomar aulas com nossos níveis de transmissão da doença". É pertinente, portanto, tomar uma decisão dessas politicamente, sem uma avaliação técnica que indique segurança para a vida das pessoas?

Mas, mesmo com todas as indicações em contrário, a decisão foi tomada. Resta, em primeiro lugar, torcer para que seja revertida política, sindical ou judicialmente. Em segundo, rezemos para, caso permaneça, que o pior não ocorra, que tenhamos mais sorte do que juízo. Ninguém quer ser profeta da desgraça ou um Jeremias, mas se isso tiver como custo a vida de professoras, funcionários de escola, pais ou crianças, que Deus perdoe todos os envolvidos nisso - elaboradores e apoiadores. Eu, sinceramente, não sei se perdoarei, criatura imperfeita que sou, ainda longe do amor ágape. Todavia, espero que a revolta e o ódio não tomem nossos corações, seja lá o que for que aconteça.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 30/04/2021
Alterado em 30/04/2021
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