Antes fosse 1º de abril
Mas não foi, foi de verdade, março existiu e foi essa desgraceira toda até o último dia. No Brasil, recorde de mortes notificadas por Covid-19 em 24 horas: 3.869. Os epidemiologistas previram isso em fevereiro, quando ainda não havíamos superado a barreira dos dois mil óbitos. No Rio Grande do Sul, foi o "Março Mortal", como gritou de dor a manchete de um jornal estadual, registrando essa estatística infame da desgraça, do horror e da morte.
Mas os números no BR e no RS, mesmo que de figuras públicas conhecidas, estão concretamente distantes da gente. Não possuem endereço. Não riram conosco. Nunca fomos na casa deles e nem eles vieram à nossa. Não trabalham conosco. Nunca apertamos as mãos deles. Nunca sentimos seus cheiros ou perfumes. Tampouco dividimos tristezas e alegrias, lutos e nascimentos. São números e rostos distantes que, pela capacidade de empatia humana, embora possamos imaginar e sermos tocados por seu drama, não é como os que são daqui, que fizeram parte da nossa história. Logo, esses são números para além das estatísticas, são algarismos que sabemos cabalmente quem eles representam, conhecemos os rostos desses números e as lágrimas que por eles foram derramadas.
Na Região Carbonífera foram 112 mortes em março, 3.6 óbitos por dia, 40% de todas as mortes registradas na pandemia por aqui, até agora, em um mês, apenas. Eram 165 dia 28 de fevereiro e somaram 277 em 31 de março. Como chegamos a isso todos sabem, não precisa repetir. Também sabemos como evitar um abril igual ou pior. Os números de lotação dos hospitais começam, aos poucos, a baixar, e isso poderá significar um alento mais adiante. Deus queira. E governos e povo ajudem.
Em Charqueadas eram 27 perdas dia 28 de fevereiro. Ontem, chegavam a 61. Mais 34, portanto, mais de uma por dia, representando 56% do total de 365 dias em 30. Mais da metade. Em Triunfo foram 26, 44% de 59. São Jerônimo somou 22, 38% de 57. Esse foi o triângulo da morte na região: 82 vidas perdidas, ou seja, 73% das vítimas fatais do março maldito. Em Butiá foram 13 óbitos registrados no período, 30% do total. Essas foram as quatro cidades mais atingidas em números absolutos. Minas do Leão (7), Arroio dos Ratos (5), General Câmara (3) e Barão do Triunfo (2), juntas, somaram 17. Leão foi percentualmente o mais castigado: 63%.
E era isso e é fato, não é 1º de abril. Eis os números da colheita maldita do negacionismo, da minimização, da estupidez, da ignorância, do fundamentalismo, da ganância, da sede de poder e da insensatez no março mortal. Vamos continuar plantando isso?
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 01/04/2021