João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Crônica de um ano para um amigo

Hoje faz um ano que o Gilberto faleceu. Morava sozinho e teve um infarto fulminante. Os parentes o encontraram caído na cozinha, já sem vida, ao darem sua falta e desconfiarem do seu "sumiço" - era muito ligado a sobrinha e ao sobrinho, filhos do seu irmão mais novo, vivia falando neles. Eis a muito breve notícia acerca do fim de sua passagem por esse plano físico.

Gilberto, aposentado, católico, era colorado testado e confirmado, histórico, sócio há décadas e presença constante no Beira Rio. A gente começou a amizade tomando café junto com outros três camaradas na lancheria da rodoviária de Charqueadas. Éramos cinco, lá por 2017: ele, eu, o Barbeiro, o "Delegado" e o Jornaleiro. Futebol, política, mulheres, piadas, vídeos de celular, causos locais e outros assuntos estimulados pela cafeína, lendo jornal (eu Zero Hora, ele Diário Gaúcho), comendo pastel, vendo o pessoal que circulava, jogando conversa fora com os taxistas e tirando sarro e colocando apelidos uns nos outros. Eis a descontraída e benfazeja rotina da manhã, iniciada lá pelas sete e meia, diariamente, menos no domingo. Coisa boa a nossa "Lancheria de Redação".

Ali vimos jogos de futebol. Grenais, Copa do Mundo, decisões de Grêmio e Inter. Apostas de futebol, cavalos (ele). Um churrasquinho de vez em quando, como na virada de ano 2019/2020. A turma da "Confraria do Jornal com Café e Pastel, sem Carro" foi mudando, ficamos apenas eu e o Gilberto do pessoal original, agora juntos com o Bicheiro, o Taxista, o Metaleiro Evangélico, o Bancário Brizolista, o Pé-de-pano e o Vovô Gremista. Ele acabou dando um tempo também. Nos falamos rapidamente, por messenger, dias antes do "sumiço". Chego para o café-pastel-jornal e o pessoal me dá a notícia: "O João, tu ficou sabendo que o Gilberto morreu?" Não, não sabia, ainda. Amargou o café, azedou o pastel e umedeceu o jornal.

Na foto acima estamos eu, ele (de bigode e camisa listrada) e o Carlinhos, membro sazonal da Confraria, lá na Cervejaria Malte Puro, em Charqueadas, em 16 de março de 2018, tomando chopp artesanal verde num St. Patrick's Day. Ficamos "legais" naquele dia, os três. Descobrimos o caminho da roça e, durante a Copa da Rússia, íamos lá tomar chopp e cerveja e trocar figurinhas, ele para a sobrinha e eu pra mim mesmo. Tempo bom, tempo tri, de camaradagem. O Gilberto, em suma, era um cara engraçado, genioso e gente boa que gostava muito de um bom papo. Eu curtia compartilhar momentos com ele.

Nesse último ano, devido a necessidade do isolamento social, a Confraria está em stand by desde o final de março 2020. Hoje de manhã vou passar café e pedir pelo telefone pastel e jornal - faz um ano que não folheio um impresso - para ilustrar sua lembrança. Dois jornais, pois pedirei também um Diário Gaúcho. Saudade, amigo Gilberto. Acho que fazer uma crônica pelo um ano de teu falecimento tem mais a ver com o que compartilhamos. Missa é com os parentes.

Fica com aí com Deus, no céu "azul" - permita-me essa flauta, como oração.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 31/03/2021
Alterado em 31/03/2021
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