João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Querem pipoca com guaraná?

Olhei pela janela lateral e vi os vizinhos jogando conversa fora, agora à tarde, sentados à sombra no pátio deles. A cena, não sei por que, deu-me vontade de comer pipoca. Como eles, sem saberem, deram-me a ideia, num arroubo de generosidade lhes perguntei: "Querem pipoca?"

Aceitaram, claro. Merecem, pois estão ali, idosos e isolados socialmente aguardando a vacina que demora, os queridos. Fui lá fazer a pipoca. E pipoca pede... guaraná! E eu tinha guaraná na geladeira. Ofereço também ou não? Tá, ofereci. Tudo pronto, alcancei pra eles em copinhos plásticos as pipocas e o guaraná. Um casamento perfeito, não? Digo a pipoca com o guaraná, não o dos vizinhos. Perfeito sei que não é, mas já dura cinquenta e poucos anos. Já a pipoca e o guaraná vão muito bem juntos, como anunciava, com toda a razão, a antiga propaganda do Guaraná Antárctica.

Não uso sal na pipoca. Vocês colocam? Não coloco sal em nada: salada, ovo frito, ovo cozido, pipoca, etc (no churrasco coloco, sal grosso). De salgada chega a vida, ainda mais agora. Sentei, com a pipoca e o guaraná, na frente de casa, à sombra, sentindo a brisa. Que momento! Na atual conjuntura estar vivo e com os pulmões ok é um baita dum privilégio. A coisa tá ruim, só fico olhando as notícias da região aqui pelo Portal. Hoje pela manhã fiz uma chamada de vídeo pelo Messenger com um amigo e ele falava do óbito do pastor da igreja dele, que, aos 50 e poucos anos, sem doença alguma, contaminou-se e se foi rapidamente. Ele estava desolado, diz que o pastor era muito gente fina e que gostava muito dele. Se o meu amigo, que é um baita parça, diz isso, então podem crer que é verdade o seu testemunho sobre o pastor. Uma pena, então. Ninguém merece morrer assim. Quando é com um de nós ou com os nossos, sentimos diretamente.

Tomo meu guaraná e como minha pipoca em memória à todas as pessoas que morreram, celebrando a vida presente e o ar que respiro. Perdi um colega de serviço nessa semana, na faixa dos 40 anos, igualmente rápido, também por Covid-19. Fico sabendo de gente conhecida que morreu, que está lutando pela vida, que passaram pelo pior, que ficaram com sequelas e que foram vacinadas. A todos elas meu brinde de saudade, de solidariedade e de alegria, conforme o caso. Tudo isso acontecendo - recorde de 275 óbitos num dia no RS - e ainda vejo alguns passarem sem máscara aqui na rua. Minoria, ainda bem. Mas passam! Pudera, o mal exemplo vem de cima. Uma comitiva brasileira foi a Israel essa semana. Foto no embarque: todos sem máscara; foto no desembarque: todos com máscara. 

Sim, pois em Israel não tem moleza, tem de usar. Mandariam eles de volta no mesmo avião se ousassem o contrário. Não é à toa que os judeus sobreviveram aos egípcios, aos persas, aos macedônios, aos romanos e aos nazistas. Imagina? Um povo desses, que do ano 70 do século I até 1947 não possuía um país para chamar de seu e que agora dá exemplo para o mundo ao já ter vacinado quase toda a sua população, ia dar arrego para uma brasileirada fundamentalista de governo de extrema-direita que não usa máscara nem compra vacina? Bem capaz! Inclusive chamaram na chincha publicamente o nosso ministro das Relações Exteriores, que estava numa solenidade sem a devida proteção facial. E aí moleque, não vai colocar a máscara para tirar a foto oficial? Israel também tem um governo de direita, mas o pessoal lá dá valor pra vida humana e não dá arreglo pra negacionista.

Papo pesado o meu, né? Sim, pipoca com guaraná pede uma conversa mais leve. Então vamos lá: sabem o que ocorreu há exatos 60 anos atrás, num 9 de março de 1961, lá na Rússia? Pois é, isso é papo de guaraná com pipoca. Então, sabem o que os russos fizeram? Mandaram um foguete pro espaço, circular a Terra, com um cachorro, alguns camundongos, um porquinho da índia e... um manequim dentro! Verdade, fato. Essa missão ficou conhecida no mundo como Sputnik 9, mas os russos oficialmente a denominaram Korabl-Sputnik 4. Foi a quarta enviada com animais e a primeira em que eles sobreviveram. Nas outras três, Laika morreu por superaquecimento em 1954, Bars e Lisichka na explosão do foguete em julho de 1960 e, no final mesmo ano, Pchyolka e Mushka foram sacrificadas quando os russos explodiram a cápsula ao reentrar na atmosfera, ao constarem que um erro orbital a levaria a pousar em solo estrangeiro.

Na Sputnik 9, Chemushka e sua turma tiveram sorte e voltaram ilesos, junto com Ivan Ivanovich, o manequim. Sim. nomearam o tal. Não esqueçam que o lance dos russos é vodka, não guaraná. Nem sei se comem pipoca. Em Israel também não sei, mas lá deve ser uma boa, pois é um país bem quente, ao contrário da Rússia, que é tão fria que congelou os soldados de Napoleão e de Hitler quando tentaram invadi-la. Os israelenses e os russos não são trouxas. Os segundos até já tem uma vacina pra Covid-19, a Sputnik. O Brasil vai comprar ela, também. Uma boa. Vacinar como os israelenses com a vacina dos russos. E depois tocar a vida nas tardes de verão com pipoca com guaraná, agradecendo a Deus e a ciência por ter esses momentos simples e valiosos para vivenciar.


João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 09/03/2021
Alterado em 09/03/2021
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