João Adolfo Guerreiro
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Textos
"A dor passa, mas a beleza permanece"

O pintor francês Pierre-Auguste Renoir sofreu muito com uma grave artrite reumatoide nas últimas décadas de sua vida. Entretanto, nunca parou de pintar, até o último dia, em 3 de dezembro de 1919: uma natureza morta com maçãs.

O grau degenerativo de sua doença foi tamanho que, assim como o escultor mineiro Aleijadinho fizera cem anos antes, teve de amarrar os pincéis às mãos para exercer seu ofício. Sim, ofício, pois Renoir não se considerava um artista, mas um operário da pintura, alguém que obrava para produzir um objeto manufaturado que permaneceria. Sua dedicação ao trabalho era tanta que, quando iniciou um tratamento para voltar a andar, devido ao esforço exigido por esse, decidiu continuar numa cadeira de rodas: "Preciso da minha energia para pintar, pois pintar é mais importante que andar para mim" - disse ao médico.

Seu amigo, o também pintor Henri Matisse (1869 - 1954), visitava-o frequentemente. Certo dia perguntou o motivo de Renoir continuar com sua pintura ante tal situação adversa, sob intensas dores. Foi aí que ele deu a famosa resposta: "La douleur passe mais la beauté demeure" ("A dor passa, mas a beleza parmanece"). Eram tempos ainda mais difíceis esses anos finais: sua esposa Aline Charigot (1859), vinte anos mais nova, morreu em 1915 e, devido a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914, dois dos seus três filhos, Pierre (1885 - 1952) e Jean (1894 - 1979), alistaram-se.

Jean foi baleado na perna e voltou para casa durante a recuperação. Por esse tempo já trabalhava como modelo para o seu pai a jovem Andrée Madeleine Heuschling (1900 - 1979), uma aspirante a carreira de atriz. A modelo do pai, retratada cerca de cem vezes por este no período, virou musa do filho, que depois da Guerra a desposou e iniciou na carreira cinematográfica como diretor, por influência dela - que adotaria o nome artístico de Catherine Hessling.

A obra que ilustra esse texto, Mulher atando o sapato (óleo sobre tela, 1918, 50.5 x 56.5 cm) é dessa fase do artista, retratando Andrée. Todas as dores daquele tempo - e as pessoas - passaram, mas o quadro permaneceu. Tinha razão Renoir. Assim são - e assim serão - o mundo e a vida, que eternamente se renovam em sua beleza. 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 02/03/2021
Alterado em 02/03/2021
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