João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Quarta-feira sem cinzas
(O Carnaval nos tempos da Covid-19)

Quando eu era pirralho lá na Colônia achava que a Quarta-feira de Cinzas recebia esse nome em virtude de, findo o Carnaval, as pessoas queimarem tudo o que sobrava da festa nesse dia, restando apenas cinzas. Pela lógica do pequeno Joãozinho, então, hoje não seria uma quarta de cinzas, pois, se não aconteceu o Carnaval, não tem o que queimar e, portanto, não há cinzas. Ah, adoro a lógica e seus sofismas concretos.

Bom, bem depois soube que as cinzas tinham apenas indiretamente a ver com a Festa da Carne: na verdade tem a ver com o espírito, com a fé. É que na Quarta-feira de Cinzas é o início da Quaresma Cristã Ocidental, ou seja, os 40 dias que antecedem a Páscoa que, diga-se, são de fato 46, pois não se contam os domingos. E como a cinza entra nisso? Bom, as cinzas o padre mistura com água e faz uma cruz na testa das pessoas. Cinza de carvão? Não, claro que não, né. São cinzas dos ramos de palmeira do Domingo de Ramos da Páscoa do ano anterior que, depois de secos, são queimados e suas cinzas guardadas para o ano seguinte.

E pra que isso? É uma simbologia para lembrar as pessoas, dentre outras coisas, do caráter efêmero, passageiro e transitório da vida humana. "Tu és pó e ao pó hás de voltar". Ou seja, da morte. Puxa vida, mas se tem uma coisa da qual a gente não precisa ser lembrado nesse ano é disso, não é mesmo? Só aqui no Brasil já foram 240 mil que transitaram dessa vida para o além-túmulo devido a pandemia. "O Carnaval nos tempos da Covid-19" - se Gabriel Garcia Marques fosse vivo e lúcido e ainda corresse atrás do trio-elétrico, com certeza reescreveria seu famoso romance e colocaria esse título. Mas Gabo só não vai atrás porque já morreu, voltando ao pó. Aliás, nem os vivos foram em 2021, pois não teve Carnaval e nem trio.

Voltemos às cinzas. A volta dos que não foram, pois não tivemos cinzas. Sim, nem as do Carnaval do Joãozinho e tampouco as dos padres. Como na Páscoa de 2020 já havia pandemia, não houve missa e, assim, não tivemos ramos no Domingo de Ramos e necas de cinzas para a Quarta-feira de Cinzas de 2021. Quarta-feira Sem Cinzas. E ainda sem vacina pra todos, o que é pior.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 17/02/2021
Alterado em 17/02/2021
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